Curso de estrutura de roteiros | Aula 6

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Aprendendo linguagem cinematográfica com Xena

SSenaT

Aula 6 – Estruturas Narrativas – I

 

1 – A jornada do Herói

Segundo Joseph Campbell, em seu livro “A Jornada do Herói”, é possível estruturar qualquer história de aventuras a partir de um roteiro básico. Para confirmar esta teoria basta separar e identificar determinadas situações constantes presentes em quase todas as histórias de ação, estes elementos constituem a “Jornada do Herói”.

 

Aqui vamos tomar duas histórias de exemplo que em princípio são totalmente díspares, mas que possuem integralmente a estrutura da Jornada do Herói: “Star Wars – A New Hope” e “Bob Esponja, o filme”, além de apontar algumas cenas do seriado XWP, onde estes elementos também estão presentes.

1 – O Mundo Comum

Geralmente nas histórias de aventuras a “Jornada do Herói” começa apresentando o protagonista ou o Herói em seu Mundo Comum até o momento da primeira virada quando ele é deslocado em direção ao Mundo Especial da Aventura.

 

– Em “Star Wars”, encontramos o Jovem Luke Skywalker vivendo numa vida monótona na fazenda dos seus tios no meio do deserto em um planeta esquecido até o momento que ele é impulsionado ao Mundo da Aventura numa guerra galáctica contra o Império;

– No filme “Bob Esponja, o Filme”, inicialmente vemos Bob vivendo feliz na Fenda do Bikini na expectativa de conquistar uma promoção no seu emprego. Porém, ele não a consegue e o seu mundo feliz desmorona;

– Geralmente a maioria dos episódios de XWP começa com as duas amigas na estrada em uma situação do cotidiano. Elas estão caminhando ou caçando ou tomando banho de rio etc., até o momento em que algo de anormal acontece.

2 – O chamado ao Mundo da Aventura

Neste momento, ao Herói é apresentado um Chamado à Aventura, um desafio de grande risco. Geralmente ele é praticamente expulso do Mundo Comum.

 

– Em “Star Wars”, o chamado acontece quando Luke e Ben Kenobi vêem o holograma da princesa Leia pedindo ajuda;

– Já em “Bob Esponja”, o Sr. Siriqueijo, chefe de Bob, cai numa intriga preparada pelo seu inimigo Plankton sendo injustamente acusado de ter roubado a coroa do Rei Netuno. Revoltado com o chefe pela sua não-promoção Bob Esponja retorna à lanchonete para tomar satisfações. Mas acaba comprometendo-se em salvar a vida do seu chefe;

– Em XWP toda vez que Xena e Gabrielle estão na estrada e encontram bandidos ou algum mensageiro (Arauto) vindo de algum reino distante elas então são convidadas a entrar no Mundo da Aventura.

3 – Recusa ao chamado

Geralmente nas comédias românticas, no momento do chamado o Herói ou o Anti-herói costumam relutar em deixarem-se envolver. É bem normal que qualquer pessoa normal sinta medo ao ser chamado à aventura, então é necessário que ocorra algum fato ou influência para que ele supere o medo. Pode ser um encorajamento do Mentor ou algum fato inesperado que cutuque com os seus brios.

 

– Em principio, Luke tinha dúvidas de viajar com Bem para ajudar a princesa Leia, até o momento em que ele se depara com os corpos dos seus tios mortos pelas tropas do Império. A partir deste momento ele não hesita mais em partir daquele planeta;

– Bob Esponja, ao perceber a enrascada que estava se envolvendo, tenta fugir da aventura, porém ele é encorajado pela sereia Mindy, filha do Rei Netuno e seu amigo Patrick Estrela;

– Em XWP, Xena normalmente não demonstra medo algum no momento do chamado, porém, pelo menos em “Here She Comes… Miss Amphipolis” – XWP, ela inicialmente recusa-se a participar de um concurso de beleza (um mundo então totalmente estranho a ela) para tentar evitar que algum crime ocorra. Também podemos exemplificar com o momento em que Gabrielle recusa o título de Rainha Amazona para mais tarde aceitá-lo quando ela se sente pronta.

4 – O encontro com o Mentor

A relação entre o Mentor e o Herói é um dos temas mais comuns na mitologia. Representa o vínculo entre pai e filho, mestre e discípulo, Deus e o ser humano. Um dos mais famosos mentores é o Mago Merlin do Rei Arthur. A função do Mentor é preparar o Herói para enfrentar o desconhecido quando ele atravessar o primeiro limiar. Geralmente o Mentor ensinar, fornece armas e instrumentos ou concede poderes místicos. Um Herói pode ter vários Mentores.

 

– Em “Star Wars” o Mentor é o cavaleiro Jedi Ben Kenobi, ele principia Luke no caminho da Força;

– No filme de Bob Esponja, Mindy cumpre a função de ser o Mentor quando ela fornece aos Heróis um saco de vento para poderem retornar e mais adiante falsos bigodes para que eles acreditem que se tornaram homens de verdade;

– Em XWP, Inicialmente Xena teve em Alti a sua mentora nos conhecimentos da magia negra, mais tarde, encontrou em Lao Ma a mentora do conhecimento dos poderes da mente e do autoconhecimento. Por sua vez, Gabrielle viu em Adan o seu “mestre” de Ioga e mais tarde em Eli a figura do seu mestre no Caminho da Paz e do Amor. Entretanto, pode-se considerar que no decorrer de toda série, Xena é a sua grande mentora.

5 – A travessia do primeiro limiar

Quando o Herói se compromete com sua aventura penetra no Mundo Especial ao efetuar a travessia do primeiro limiar. Este é o momento em que a aventura realmente tem início, é o primeiro Ponto de Virada (Plot Point). A partir desse ponto ele não tem mais como retroceder.

 

– Em “Star Wars”, é o momento em que Luke e Ben partem na Falcon Milenium;

– Quando Bob Esponja e Patrick partem da Fenda do Bikini eles se deparam com armadilhas, águas vivas venenosas e uma taberna de homens maus;

– Em “Paradise Foud” – XWP quando Xena e Gabrielle estão em uma caverna e caem em um buraco elas descobrem que penetraram em um local muito belo e misterioso e não sabem como sair dele.

6 – Testes e desafios, aliados e inimigos

No momento em que o Herói entra no mundo especial ele encontra novos desafios, enfrenta testes, faz aliados e luta contra inimigos. Estes fatos podem se repetir várias vezes durante a história. Nesses momentos o Herói é testado, há inimigos por toda parte e eventualmente ele pode recorrer à ajuda de aliados em alguns momentos da história.

 

– Em “Star Wars” pode ser o momento em que Luke e Ben vão à taberna em busca de um piloto (Han Solo e Jubaka) para levá-los a Alderan. Também e enfrentam inimigos na taberna e participam de uma batalha no espaço, penetram na estrela da morte para salvar a princesa Leia;

– Enquanto que Bob Esponta e Patrick têm que enfrentar diversos obstáculos, eles encontram uma taberna cheia de sujeitos maus e têm que provar que não são garotinhos bobos. Além de serem perseguidos por um terrível vilão assassino que tenta impedi-los de cumprir a sua missão;

– Em XWP podemos destacar dezenas de momentos como este. Um deles poderia ser quando em “The Dirty Half Dozen” quando Xena invade um castelo, auxiliada por diversos “companheiros”, cada qual com sua parcela de contribuição segundo os seus talentos e especialidades.

7 – Entrando na Caverna Oculta

Aqui o Herói chega à fronteira de um lugar perigoso onde está o objeto de sua busca. Pode ser o quartel general de seu maior inimigo. A Caverna Oculta é o ponto mais ameaçador do Mundo Especial. Quando o Herói entra nesse lugar temível, ele atravessa o Segundo Limiar. Entrar na Caverna significa entrar no território do inimigo e enfrentar o perigo supremo.

 

– Em “Star Wars”, a nave de Han Solo é atraída pela Estrela da Morte e os heróis não tem outra opção senão a de estar dentro dela;

– Bob Esponja e Patrick, mesmo sem os seus bigodes enfrentam o risco de entrar em um tenebroso vale cheio de monstros para chegar ao seu objetivo;

– Em XWP, entre muitos momentos, poderíamos destacar a cena de “Motherhood” em que Xena convence que Aphrodite as transporte ao Monte Olimpo para que ela pudesse negociar diretamente com a deusa Athena as vidas de Gabrielle e Eve.

8 – A Provação suprema – A morte do Herói

A provação suprema é o momento mais crítico nas histórias. O Herói enfrenta a possibilidade da morte. Na provação suprema, ele tem que morrer para renascer em seguida.

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–  Em “Star Wars” seria o momento em que Luke, Han e Leia ficam presos no compactador de lixo e quase são esmagados, ou quando Ben morre;

– Já em “Bob Esponja”, Os Heróis são capturados por um escafandrista que pensam ser um ciclope que os coloca sob uma forte luz para secar. Eles aos pouco vão secando e morrendo;

– Em XWP quase não se pode contar nos dedos as várias vezes em que Xena e Gabrielle morreram ou quase morreram e voltaram do mundo dos mortos.

9 – A ressurreição do Herói

O Herói deve “renascer” e, assim, purificar-se antes de voltar ao mundo comum. Essa etapa é uma espécie de exame final do Herói, para ver se realmente aprendeu as lições. Ele se transforma graças a esse momento de morte e renascimento. A Ressurreição é o último momento de perigo para o Herói e, por isso, deve ser o mais forte, o momento que o leva mais próximo da morte. Após essa etapa, o Herói geralmente adquire uma nova personalidade, menos egoísta, mais experiente e sábio. Ele deve deixar para trás toda a impureza, todo o trauma do mundo especial e guardar para si somente a experiência e a sabedoria adquiridas.

 

– Em “Star Wars”, quando é percebido que o Jedi Obe Wan morreu fisicamente porém permanece vivo em outro plano ainda podendo influir na mente do jovem Luke ou na cena em que a sua nave quase é destruída por Dart Vader, porém Solo salva-o no último momento;

– Bob Esponja e Patrick estão praticamente todos ressecados, porém a força do “amor” entre eles fala mais forte e conseguem escapar da morte certa. Uma última gota de lágrima vinda de ambos corre pelo fio elétrico e causa um curto-circuito na luz que provoca um pequeno incêndio que ativa um splinder que molha os Heróis fazendo-os retornar à vida;

– Em “Chakran” – XWP, quando Xena retorna a vida, por estar totalmente purificada ela se esquece de parte do seu passado, principalmente dos fatos da sua vida de guerreira. Mais tarde ela conquista um chakran mais poderoso e recupera todas as suas habilidades e, mais adiante, adquire o poder de matar deuses.

10 – O caminho de volta e o último combate

O caminho de volta é onde começa o terceiro ato da história. O Herói ainda está no Mundo Especial e corre perigo. As forças do mal se reorganizam e preparam um último ataque, a batalha final.

 

Em “Star Wars”, Luke, Leia e Hans Solo são perseguidos pela força do Império depois de fugirem da Estrela da Morte e ainda terão que enfrentar novas batalhas para deter o Império;

– Bob Esponja e Patrick retomam a Fenda do Bikini de carona nas costas de um nadador, porém ainda são atacados pelo terrível vilão matador e ainda terão que enfrentar mais uma tramóia do Plankton;

– Em XWP, depois de salvar a bebê Eve dos deuses, Xena e Gabrielle acabam sendo congeladas em uma caverna do Monte Etna por uns 25 anos. Quando elas acordam descobrem que ainda têm que resgatar a filha da Xena das garras de Ares e mais adiante enfrentar da ira dos demais deuses.

11 – O Elixir ou o Antídoto

O Herói retorna ao Mundo Comum, mas toda a jornada não tem o menor sentido se ele não trouxer consigo a cura final. O Elixir é um determinado poder adquirido pelo Herói na jornada. Muitas vezes, o Elixir é simplesmente um amor reconquistado, a liberdade de viver ou a volta para casa com uma boa história para contar. Geralmente nos contos fantásticos é aquele momento mágico em que o Herói executa uma ação e o mundo dominado pelo mal se liberta; as nuvens negras somem tornando o dia mais claro; as árvores secas começam a florescer e tudo fica mais verde, os pássaros cantam e a felicidade retorna a terra do Herói, pois o poder do mal desapareceu.

 

– É quando Luke usa o poder da Força para detonar a Estrela da Morte restaurando o equilíbrio de forças entre o Império e a dos rebeldes;

– Bob esponja salva a vida do seu chefe, porém Plankton ainda tinha uma carta na manga. Ele escraviza mentalmente todos os habitantes da Fenda do Bikini com baldes-capacetes, inclusive o Rei Netuno. Mas em um inusitado show de rock Bob Esponja e Patrick conseguem destruir todos os baldes-capacete, assim, libertando todos os seus amigos;

– Em “Prometheus – XWP”, é quando Xena e Hércules conseguem libertar o titã e o conhecimento do fogo e o dom de curar ferimentos retorna à humanidade.

12 – A recompensa

Após sobreviver à morte, derrotar o dragão e salvar a princesa, o Herói e o espectador têm motivos para celebrar. Ele então pode se apossar do tesouro que veio buscar, sua recompensa. Pode ser uma arma especial, um símbolo como o Santo Graal, ou ainda simplesmente o ganho de experiência, uma superação, mais sabedoria ou reconhecimento.

 

– No final de “Star Wars”, os Heróis, diante das tropas rebeldes, são condecorados pela princesa Leia;

– Finalmente Bob Esponja e Patrick encontram na loja do ciclope a coroa do Rei Netuno que uma vez recuperada salvará o Sr. Siriqueijo;

Ao longo da série, Xena e Gabrielle encontram ou resgatam diversos tesouros, mas recusam a ficar com eles ou ganhar recompensas, porém Xena demonstrar sempre buscar o poder do conhecimento de novas técnicas de luta, estes ela as conserva para si ampliando o seu leque de habilidades. No Céu ela consegue purificar a sua alma dos pecados no fogo para se tonar arcanjo e mais tarde adquire o poder de matar deuses.

Exercício

Um bom exercício é escolher um bom filme de aventura; qualquer um: “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “O quinto elemento”, “Kill Bill”, “Toy Story”… Qualquer um. Certamente nestes filmes poderemos identificar a presença de todos ou da maioria dos passos da “Jornada o Herói”, definidos por Campbell.

2 – Efeitos de montagem

Clichês

O roteiro deve sempre buscar surpreender o público com o inusitado mesmo que ele esteja contado uma história velha. Devemos evitar os clichês (cenas padronizadas) e bordões (falas de efeito) e a melhor maneira de evitá-los é conhecê-los. Porém, podemos tornar uma cena inusitada quando pegamos um clichê e o alteramos para um desfecho inesperado.

 

Em “Scary Movie 1” a fútil Buffy duvida que o assassino seja real e acaba ela mesma se ferindo para provar que não está levando a cena clichê a sério e mesmo com a cabeça arrancada continua a debochar do serial-killer.

Não devemos deixar que o espectador siga à frente da história. Isso ocorre quando a cena é tão óbvia e ele já sabe o que vai acontecer. A história deve “esperá-lo na esquina”. Roteiro que não surpreende o autor dificilmente surpreenderá o público.

Usar a técnica de ideias antagônicas ou as chamadas cenas “contra corrente” em roteiro pressupõe criatividade. Aristóteles já dizia: “O efeito dramático vem daquilo que não é provável.”

Paródias e referências

 

Cenas de paródias são bem comuns nas comédias. Muitos filmes como “Todo mundo em Pânico”, “Não é mais um besteirol americano”, “Corra que a polícia vem aí” basicamente são quase que integralmente montados em cenas de paródias que reproduzem comicamente cenas célebres de outros filmes.

Cenas de referencias buscam apenas homenagear, como o próprio nome já diz, fazem referencias a fatos históricos, literários ou à cenas, cômicas ou não, que levam o público a mentalmente interagir fazendo-os lembrar das cenas originais em filmes clássicos, da literatura ou mesmo nas histórias e bíblicas.

O seriado XWP é repleto de cenas de referências. Muitos episódios são referenciais à histórias bíblicas como: Davi e Golias, o sacrifício de Abraão, os Reis Magos etc. Também existem referencias à histórias Shakespearianas e à cenas de filmes clássicos como: “Indiana Jones”, “Miss Simpatia”, “Golpe de Mestre”, “Cleópatra”, “Um Conto de Natal” etc.

Subtextos (entrelinhas)

 

É uma mensagem que efetivamente não é claramente visualizada ou declarada na cena, mas de alguma forma pode ser percebida pelo público. Uma cena pode passar uma determinada mensagem ou sinal em um gesto, uma troca de olhares entre os personagens, em um som denunciador de fundo, na construção do ambiente etc.

Muito se comenta dos muitos subtextos ao longo da série XWP que denunciam o envolvimento homoafetivo entre as duas heroínas; e de fato eles estão lá mesmo para quem quiser aceitá-los. Entretanto, como geralmente os subtextos podem não ser percebidos integralmente pela maioria dos espectadores sempre pode ficar a dúvida de alguém se o roteirista teve ou não a intenção de passar determinada mensagem em determinada cena. Entretanto, podem existir alguns subtextos que só existem mesmo na cabeça dos alguns espectadores.

Muitas vezes, o uso de subtextos é uma forma eficaz de passar conceitos driblando a censura política, religiosa ou social. Certamente quando os produtores de XWP perceberam que a trama poderia ser enriquecida levando as duas heroínas a vivenciarem uma relação amorosa eles também anteciparam que poderiam ter sérios problemas na divulgação do seu produto devido à provável censura por parte dos exibidores e patrocinadores. Ainda mais que a série era prevista para atingir o público infanto-juvenil e não adulto. Parece que tornar a relação delas ambígua de início usando apenas subtextos foi o caminho escolhido para contornar o puritanismo americano. Mais tarde, quando a série se consagrou nas últimas temporadas a relação entre as duas tornou-se mais explícita e os subtextos passaram a ser quase que desnecessários.

Mensagem subliminar

 

Poucas pessoas se dão conta disso, mas em todos os filmes de animação 3D da Dreamworks existe pelo menos uma cena com uma lua crescente, referente ao logo da produtora; e que em todos os filmes de animação 3D da Pixar/Disney existe pelo menos uma cena com um carro com o foguete do Pizza Planet no teto.

Estas inserções atuam como mensagens subliminares que é a fugaz presença de determinado elemento ou signo numa cena de forma semi-oculta com o intuído de passar discretamente determinada mensagem aos espectadores. Ex.: Numa recente propaganda do governo apresentava a presidente Dilma discursando enquanto simultaneamente a voz do Lula corria em off numa tonalidade bem baixa falando exatamente as suas mesmas frases. Na cena seguinte já era Lula quem falava e a voz de fundo em off bem baixo era a da Dilma. Este recurso tentava passar ao povo subliminarmente a ilusão que Dilma e Lula eram como se fossem uma mesma pessoa em pensamentos e atitudes.

Efeito Kuleshov – plano metafórico

 

É como introduzir metáforas visuais na cena com a justaposição de planos com o intuito de criar uma nova significação, inexistente nos planos isolados. O termo foi criado a partir de um experimento do cineasta russo Lev Kuleshov (1899-1970) em que um mesmo plano de um ator com expressão neutra era alternado com planos carregados de diferentes significações afetivas (uma mulher na cama = “sedução”; uma pessoa morta = “tristeza”; prato de sopa = “fome”), que pretendiam “induzir” a interpretação dos espectadores, fazendo-os acreditar que a expressão do ator haveria mudado. O poder do Efeito Kuleshov foi bastante utilizado no inicio do século XX por teóricos e cineastas russos como Sergei Eisenstein e Dziga Vertov. Em seu primeiro filme. “A Greve”, Eisenstein exibe imagens de animais sobrepostas a dos personagens para ressaltar o caráter de cada um. (macaco, rato, porco, mocho etc.) Os Nazistas também se valeram desta teoria ao executarem filmes de propaganda anti-semitas que mostravam imagens de judeus sobrepostas com imagens de centenas de ratazanas para provocar a antipatia do povo germânico à raça considerada inferior pelos nazistas.

Meta-linguagem

Às vezes os roteiristas fazem certo jogo com a platéia. No meio da trama eles criam uma pausa e mostram o processo dos bastidores da encenação. É aquele momento em que os cameramen, os diretores e produtores aparecem no meio da história. Neste momento o mundo da ficção é invadido pelo mundo real. A meta-linguagem não transmite apenas a mensagem fala também sobre o veículo em que a mensagem está sendo emitida.

No final de quase todos os filmes de Jackie Chan, no momento dos créditos, são exibidas cenas “bloopers” (cenas engraçadas de falhas de produção). Elas não entraram na narrativa da história, mas como meta-linguagem os produtores acharam que elas mereciam ser vistas pelo público.

No seriado XWP podemos entender que os famosos “discraimes” (frases finais tipo: “Nenhum centauro foi ferido durante a produção deste filme…”) são uma brincadeira com a meta-linguagem.

O seriado também brinca com a meta-linguagem em diversos momentos, como no episódio em que Ted Ramini como roteirista tenda vender ao R. Tarpet os manuscritos de Gabrielle, quando os fãs do seriado XWP e Alti criam clones de Xena e Gabrielle, quando o pergaminho que cita a veracidade da existência histórica de Xena é apresentado em uma Convenção ou quando LL exibe a sua verdadeira barriga de grávida no vestido de go-go girl de Gabrielle nos créditos finais de “Lyre. lyre”.

No seriado HLJ, existem dois episódios que são quase que inteiramente baseados na brincadeira da meta-linguagem. “Yes,Virginia,.There.is.a.Hercules” e “For.those.of.you.just.joining” em que os personagens da série brincam de ser na vida real os atores e produtores do seriado Hércules.

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One Response to “Curso de estrutura de roteiros | Aula 6”

  1. Olá
    desculpe a correção, mas o livro O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell, não é um modelo de guião como os autores hollywoodianos fazem crer. A Jornada do Herói descrita no trabalho de Campbell é uma análise de mitos antigos por meio da Psicanálise, em especial baseada em Freud e Jung.

    Se você for escritor e se interessar pela Jornada do Herói, sugiro que leia O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell ao invés de A Jornada do Herói de Phil Cousineau.

    Também recomendo que não leia A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler, antes de ler Campbell. Os últimos dois trabalhos que eu citei são uma tentativa ruim de sistematizar as teorias de Campbell no roteiro de cinema.

    Ruim porque muitas vezes os roteiristas e escritores iniciantes, que aprendem essas coisas, usam arquétipos como Arauto, Encontro com o Pai e a Mãe-Má sem saberem o que eles significam.

    Se quiser complementar o conhecimento ou entender a totalidade do trabalho de Campbell, sugiro que dêem uma olhada na bibliografia de Carl Gustav Jung (nos Arquétipos e análises do sonho) e Sigmund Freud, especialmente o Complexo de Édipo, Complexo de Castração e modelo da Psique.

    De qualquer forma, gostei do site. Vou acompanhá-lo.
    M.

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