Potédia, Gabrielle e Maldições

Por:

 

Natália Coelho

Olá de novo! A minha análise dessa vez se baseia numa frase muito singular dita por Gabrielle logo no primeiro episódio da série Xena: a princesa guerreira. Nesse presente texto, pretendo fazer uma ligação com a cultura celta e a fala da barda, evidenciando assim, as bases culturais de Gabrielle antes de Xena surgir.

A dita frase aconteceu no episódio Sins of the Past, quando a loira estava seguindo Xena e é presa numa jaula pelo Cíclope cego. Ao ser presa, Gabrielle exclama com todo fervor:

“Pai imortal, Zeus que está no céu,

amaldiçoe este bruto se ele me comer!

Torture-o com o sangue

de uma serpente morta…

E com os excrementos dos corvos!”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E o que isso tem com os Celtas? Eu explico. Fazia parte do costume das regiões com fundo Celta ( península ibérica, Europa central, Bretanha, Europa do Norte ) usar esse tipo agouro para quem lhe prestasse algum mal. Não isso não é uma questão puramente humana. É cultural. Vejam nesse seguinte tablete de chumbo que se encontram nessas regiões:

 

 

 

 

 

Tradução:

“Cryse, dou … libras de ouro.

Roga e faz uma doação a Iau com a

Com a pecúnia que subtraiu Heracla companheiro de servidão

Para que fique afetado no peito e nos olhos

E que todas as suas forças fiquem atrofiadas

Dou também pecúnia ao mago pelo seu serviço”

 

( Adendo: essa tradução encontra-se na página 76 da seguinte monografia http://www.nea.uerj.br/publica/monografias/MonografiaCarlosEduardodaCostaCampos.pdf , juntamente com a foto da plaqueta. )

 

Comparando os dois textos, vemos que a fala de Gabrielle possui a mesma estrutura: Ela roga à Zeus, enquanto o sujeito da plaqueta de chumbo roga à Iao, ‘divindade a qual possuía como seus atributos o maré o caos’. E ambos pedem que o causador do mal seja ferido. Ambos são maldições. No primeiro exemplo, a maldição é proferida em voz alta. A segunda, escrita em plaquetas de chumbo e fechada com pregos.

            Como dito numa outra análise, Gabrielle é primeiramente uma Aedo típica. Sabe ludibriar quando quer. E esse ponto se mostra presente ainda nessa mesma cena quando ela engana o Cíclope com a sua eloqüência. A região de Potédia, aglomerado urbano onde se considera que Gabrielle passou a vida inteira até que Xena passasse, foi uma região povoada por um povo que iria se dispersar pela península Itálica, Europa Central, planalto iraniano, e a própria Hélade. Os Celtas, Romanos, Iranianos e os Gregos possuem uma origem nas tribos indo-européias. Portanto, apesar do tempo de isolamento que proporciona diferenças na fala e nos costumes, existem indícios de preservação. Ou seja, não foi só quebra, mas também continuidade.

            O uso das plaquetas de chumbo amaldiçoadas foi uma prática não só dos Celtas, mas também dos Gregos. E como a maioria dessa população não tinha acesso às letras, quem na maioria das vezes escrevia eram os magos ou simplesmente as pessoas que sabiam escrever. Gabrielle é uma barda. Sabe escrever. Diz em voz alta a maldição. Portanto, no mundo xenístico, há uma grande possibilidade da região de Potédia existir o uso desse costume de amaldiçoar pessoas. 

 

Fontes:

http://www.nea.uerj.br/publica/monografias/MonografiaCarlosEduardodaCostaCampos.pdf acessado no dia 14 de Novembro de 2010 às 18:00.

1°Episódio da Série Xena. Sins of the Past.

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One Response to “Potédia, Gabrielle e Maldições”

  1. Mara disse:

    Meus parabéns Nati esta análise da oralidade e manutenção dos costumes de Potédia foi muito pertinente e tua visão da Barda neste episódio também. Gostei muito. Parabéns !

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