Por Thalita
Bom, não estou aqui para comparar as séries, mas sim pra falar de suas semelhanças.
Sabemos que Lucy Lawless (nossa Xena) fez uma pequena participação em um episódio da sexta e última temporada de The L World. E depois disso muitos Xenites passaram assistir a série e outros que já conheciam ficaram um tanto surpresos ao ver Lucy interpretando uma linda policial junto ao elenco da série “lésbica”.
Bom, além dessa semelhança existe outra, e é exatamente dessa que quero falar e fazer algumas afirmações. Mas, antes disso, é preciso deixar esclarecida a infra-estrutura de cada uma para, mais a frente, não se confundir e se perder. Primeiro vamos começar com XWP.
Sabemos que Xena se passa na Grécia Antiga, seu conteúdo pode ser visto por crianças, é uma série que mistura ação, drama, comédia etc. Embasada nas mitologias da época (apesar de não seguir à risca), podemos encontrar guerreiros, aldeias, vilões, armas de caça, lutas, César, amazonas, deuses, enfim. Tudo que naquela época existia ou pelo menos se acreditava. O enredo é rico e belo, cheio de filosofia e reflexão. Veio ao ar em 1995 e teve desfecho em 2001, seis anos de seriado.
Já The L World é uma série atual, passada nos Estados Unidos na cidade de Los Angeles, onde um grupo de amigas se reúne sempre para pôr seus assuntos em dia. A história é passada dentro do cotidiano dessas personagens (são todas mulheres). Mulheres das quais apreciamos seus conflitos, anseios, medos, problemas, amores, alegrias, conquista, enfim… Tudo que o ser humano sente hoje em dia.
Vocês devem estar se perguntando o que Xena tem haver com essa série aí? Eu lhes respondo – o fato de porem a mulher como primordial. Quem leu um pouco sobre a Grécia Antiga sabe que jamais a mulher poderia ter a liberdade de Xena, como por exemplo: entrar em uma aldeia e pôr ordem em tudo, isso realmente era impossível de acontecer. Porém sabemos que o seriado não segue, à risca, a história, por isso, vemos que as mulheres são protagonistas assim como em The L World, que igual a Xena termina na sexta temporada. A melhor semelhança de todas, porém, é que falam do amor entre mulheres. Lógico que de forma diferente, é sobre isso que irei mostrar. Ao notarmos os diálogos em Xena, percebemos que muitos personagens falam sobre a relação entre Xena e Gabrielle de forma natural. Lembrando (pelo menos aos shippers) que Xena e Gabrielle é um casal romântico. Cesár, Ares, Lúcifer, Minya, Alti, todos esses já disseram algo que deixa claro o relacionamento, porém, falam de forma natural. Isso é, no mesmo jeito, na mesma circunstância, no mesmo nucléo, que Ares e Xena podem ficar, se apaixonar e acabar juntos, Xena e Gabrielle também podem. Lembrando que naquela época não existiam os conceitos que temos hoje. Talvez seja por isso que alguns shippers não entendam, e por isso, sempre vêm com aqueles mesmo argumentos sobre o não serem lésbicas, porque um dia Xena se envolveu com um homem e o blá, blá, blá de sempre. Acontece que o “ser lésbica” é um conceito de hoje, não se encaixa na Grécia Antiga. Ninguém é nada, é só esquecer os rótulos e lembrar que somos humanos com sentimentos. Na Grécia o amor é visto como algo mais natural, e não como rótulo, pecado, fator genético, biológico, como vemos hoje. Isso parece que ninguém entende. Em The L World encontramos esse tipo de conceitos (o que não é muito bom). Porém, mesmo com esses pré-conceitos formados ao longo da história e introduzido dentro da cabeça das pessoas, o seriado mostra a normalidade dos relacionamentos entre as mulheres. Como esse assunto sempre foi amputado e excluso de todos os meios, fizeram com que as pessoas pensem coisas escabrosas sobre isso. Então o seriado dá uma grande visibilidade que não há nada de monstro, de louco, de feio. Tudo é tão natural como aquele seu namoro com a vizinha. XWP com L World contribuíram muito para uma possível desmistificação desse assunto. Mesmo que o foco da série Xena não fosse esse, serviu muito como uma ajuda em uma possível transformação sócio-cultural. Muitos puderam entender melhor o amor depois de assistir Xena. Exemplo: a Xenite Natasha confessa que, antes de conhecer a série, era uma preconceituosa e discriminava aqueles que se relacionavam com o mesmo sexo, e hoje ajuda no combate contra essa discriminação e preconceito que ela mesma tinha.
XWP mostra o amor entre Xena e Gabrielle de forma profunda, intensa, mortal, motivadora, além do bem e do mal. Mas infelizmente toda essa grandeza de sentimento não pode se reverter ao ato físico em si, por isso, ficamos com o chamado subtexto. Mesmo assim foi/é de grande valia. Espero que pelo menos uma criança entre milhares que assistiu tenha sentindo toda aquela naturalidade que XWP passa. Sim! Xena e Gabrielle se apaixonaram e se amam, é lógico que namoram, e é tão natural como tomar sorvete em dia de verão. Talvez se tivéssemos programas onde mostrasse o amor sem esses malditos conceitos, onde mostrasse o amor sendo sentido por todas as pessoas, as crianças não aprendiam essa heteronormatividade obrigatória e autoritária moldada na sociedade em geral.
Agora L World já mostra o lado físico da relação, o que não faz nenhum mal em ver, rever quantas vezes quiser. Afinal, estamos no XXI. Jamais em outra série se mostrou sexo entre mulheres. Sim, eu sei que houve a Samantha, personagem emSex and the city,junto com a brasileira Sonia Braga, porém, durou apenas 3 capítulos. Claro que também não podemos esquecer os beijos de Mischa Barton junto com a linda da Olivia Wilde em The O.C. Mesmo assim, foi pouco. Passamos a vida toda vendo homens e mulheres se “amassando” em várias posições, seja nas novelas, filmes, séries, programas de auditório etc. Passar a vida inteira assistindo algo que não fazia parte de você e não se identificar é horrível. Mesmo que L World não tenha uma boa história, mesmo que não seja uma superinteressante, mesmo que seja dentro da cultura norte-americana, vale a pena.The L World será sempre a primeira série que priorizou o relacionamento entre mulheres. Mesmo que tenha muito sexo, não é vulgar, muito pelo contrário: é bonito, é verdadeiro, é o vômito preso anos na garganta. Depois de tanta repreensão, mordaças, cinto de castidade, humilhação, corte do instinto. Mulher também sente excitação, desejo, vontade e também perde controle quando se sente atraída sexualmente. Isso não é prioridade apenas dos homens, mulheres também precisam de liberdade. E L World soube mostrar com grande veemência esse assunto. Se na época da nossa Princesa Guerreira ela pôde se apaixonar por Gabrielle, por que nós também não podemos? Por que não se libertar? Permitir sentir tudo que seu coração mandar?
Não deixe que esse moralismo que foi implantado dentro da cabeça de alguns pegue você. Não deixe essa doença, esse valor demente, alienado, catastrófico, não deixe essa foice acertar você. Vou deixar um recado meio metafórico.
Alti = Sentimento, interior.
César = Sociedade em geral.
Troca de olhares = Prazer extremo.
Callisto = Pessoas alienadas.
Potédia = Amor e sentido.
Impedimento de Alti,
Alti, onde estaria ela?
E porque ela vai me impedir?
Alti está exatamente aqui!
Aqui onde?
Aqui dentro de você.
Alti está aí dentro de você, ela é esse medo que você tem, essa coisa ruim que agoniza todos os dias. Ela está te impedindo de ser você mesmo.
Oras, como ela pode ter tanta força assim?Ela é sustentada pelas amarras de César. Graças às grandes correntes de César ela cresce a cada dia dentro de você. Se tornando mais forte, você se deixa levar por ela, esse medo em você é o impedimento de Alti. Mas, do que você está falando? Que César? Que correntes? Amarras, que negócio é esse?
As amarras de César
César é muitíssimo poderoso, é o que manda em tudo e em todos.
Cortar as amarras é um tanto difícil, porque, querendo ou não, vivemos dentro do império de César. Mas, eu lhe pergunto: Vale a pena ficar amarrado e seguir à risca tudo o que ele mandar? Afinal, somos humanos ou fantoches? E o seu coração? O que ele irá sentir ao passar a vida toda preso sem se soltar, movido apenas pelas ordens de César. Vale a pena destruir o que mais tem de bonito em você pra seguir normas inventadas por um ditador que não entende e nem quer saber como você se sente? Vale a pena deixar o impedimento de Alti crescer cada vez mais dentro de você? Se a resposta for sim, ok, viva de vez a vida de outro e esqueça a sua definitivamente. Se a reposta for não, ótimo, vamos continuar. Destruindo de vez o impedimento de Alti, e cortando as correntes de César, chegou a hora de ir pra sacada e trocar olhares.
A troca de olhares na sacada
Sim, no começo pode ser estranho, vergonhoso, mesmo assim, não tem como deixar de olhar. É tão emocionante, tentador, instigante, desafiador, elétrico, estimulante. Se no começo ficamos tensos, depois de algum tempo nós sentimos um bem enorme, esse bem que Alti sempre bloqueou, pela grande força de César.
Como é bom trocar olhares pela sacada, sim, agora estava agindo de coração, estava totalmente extasiado. Está tudo muito bem, mas Callisto está por aqui.
O ódio de Callisto
Sempre iremos encontrar uma Callisto com ódio nos olhos por saber que trocamos olhares na sacada? Ela é mais um soldado do exército de César. Mesmo que desviamos ou mesmo lutando com uma, sempre haverá mais Callistos à frente, muitas querem nos matar, outras querem que voltemos aos grilhões de César, às vezes são tantas que pensamos até em nos render. Porém, quem já enfrentou uma Callisto ali, outra aqui, se torna mais forte.
Ah, mas às vezes eu penso, para quê todo esse sofrimento? Já foi uma luta acabar com Alti. Saí todo arranhado, machucado, ao escapar das correntes de César, isso tudo pra trocar olhares na sacada. Olhares na sacada são apenas um pouco da felicidade de fazermos aquilo que sempre tivemos vontade. Mas, terei força para enfrentar as Callistos?
Primeiro tente alertá-la sobre as correntes, Callisto não passa de mais uma acorrentada. Como existem milhares, serão poucas as que você irá conseguir fazer enxergar, porém, sempre será uma a menos, nas demais o jeito é lutar mesmo. Será que terá tanta força assim? Sim! Porque está no caminho de Potédia.
O verdadeiro sentido
Potédia! Vou poder fazer o que quiser?
Melhor ainda. Além de fazer o quiser, poderá ser você mesma. Lá está sua verdadeira alegria, sua felicidade, sua força, lá encontrará o verdadeiro sentindo de tudo isso.
Potidéia!!! Mas fica dentro do império de César?
Fica sim! Mas esquece que cortou os grilões?
Bom, caso alguém acha que falei grego ou que a história está confusa e subjetiva demais, vou indicar alguns artigos da Revista Xenite para uma melhor compreensão. Os artigos são: “Xena e Gabrielle vs preconceito”, “Subbers alvos de pré julgamentos”, “Amor e seus rótulos” Apenas pessoas” e “Saindo do armário”. Todos podem ser encontrados nas edições anteriores.
Fico por aqui e obrigada pela atenção.
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