Entre a natureza e a escolha de ser bitch.
Uma discussão sobre a verdadeira índole de alguém excepcional.
Por Alessandro Chmiel
BITCH POWER – n. 13
Dedicado a Robson Cardoso dos Santos, o bardo amado de todo o fandom. Faz parte da minha Família Xenite, e de um seleto grupo de pessoas a quem me inspiro de vez em quando. A ti, amigo gaúcho, que também sofreu com a perda desse grande seriado.
Obs.: Contém alguns poucos spoilers da segunda temporada do seriado Kyle XY, mas nada que lhe impeça de assistir e entrar na vida desses personagens. Conheça um pouco e desvende esse enigma (spoilers em amarelo).
Obs. II: Artigo melhor lido acompanhado da música She Could Be You – Shawn Hlookoff, que faz parte da trilha da série e dá todo um toque especial a essa “bitch” (peçam a música pra mim!).
Para tudo que eu estou feliz. Do tipo muito contente dando cambalhotas em cima da cama. Foi um pouco antes de fevereiro de 2009 que as ideias para uma nova seção aqui na RX surgiram, inspiradas em toda nossa idolatria ao malfadar Altis, Callistos, Atenas, Najaras, Esperanças e toda a leva de vilãs de XWP. Através de uma votação na nossa comunidade no Orkut, o título da nova coluna estabeleceu-se: BITCH POWER. E foi assim que naquele mês, estrelando uma mulher barra pesada da série Prison Break, teve início este espaço de tanto prestígio pelos Xenites e xenisimpatizantes que fazem seus comentários e sugestões. A RX só existe por causa de vocês, e com a BP não é diferente. Que venham mais 12bitches pela frente!
Para falarmos da nossa bitch (será mesmo?), aqui vai uma pequena introdução ao universo de Kyle XY (2006 – 2009, criado por Eric Bress e J. Mackye Gruber): imagine-se despertando em meio a uma floresta, cercado por coisas amedrontadoras e desconhecidas. Você não lembra de nada antes de alguns segundos atrás quando começou a respirar, sem nem mesmo saber quem ou o que você é. Você anda pela rua, entre uma multidão de seres futuramente chamados de “pessoas”. Eles apontam para você, expressam sons sem sentido na sua direção; são agressivos, e você sente medo. Ah, sim: você também não tem umbigo. Melhor do que isso: imagine tudo isso acontecendo sem que você perceba de verdade todos esses fatos em um senso crítico, já que você é muito ingênuo para pensar sobre seu lugar no mundo. O que éexatamente esse mundo?
Bem, é assim que a vida de Kyle (Matt Dallas [27]) tem início; e ele é apresentado como se fosse um adulto, de fato. E é emKyle XY, série de televisão da ABC Family, onde você embarca na jornada dele em busca da verdade, da salvação, e especialmente do amor. E como todo amor é um prato cheio para o surgimento de uma bitch, com essa não foi diferente.
A misteriosa Jessi (Jaimie Alexander [25]) dá as caras nos primeiros minutos da segunda temporada, aparecendo no mundo da mesma forma excêntrica de Kyle: desnuda, curiosa e… sem umbigo. O contraste com Kyle? Ela não é tão inocente assim. Tanto é que, para se defender de uma agressão, Jessi (aka Jessica Hollander ou Jessi XX) abusa de sua superforça e mata seu violentador, um civil. Até que ponto, contudo, esse comportamento contraditório já é intrínseco à personagem e quais as chances de uma pessoa (?) como ela de mudar para melhor?
Ora, não vou estragar a surpresa e revelar o que Kyle e Jessi exatamente são. Basta entender que ambos têm origem não esclarecida, dotados de extrema inteligência e com certos “poderes” que um ser humano comum não tem, como se regenerar, mover certos objetos com a mente, correr como o vento, entre mil outros. Lembrou X-Men? Bem longe disso, Marvelmaníacos. Vale destacar que Jessi é por vezes mais esforçada em compreender seus limites e mais habilidosa que Kyle, superando-o em qualquer disputa, tentando provar de algum modo que ela tem valor, que ela é um ser digno, notável.
Acompanhando a série, vemos que Jessi não contou com uma dádiva que Kyle Trager pôde se apoiar: aoportunidade de pertencer a uma família. Jessi se descobre das piores maneiras possíveis, tudo através de sofrimento e decepções. Ao ser notada por um grupo de autoridades já anteriormente de olho em Kyle, Jessi é vítima de completa exploração e serve apenas como uma peça de tabuleiro nas ambições de quem pode – ou pensa que pode – comprá-la. Isso tudo em Kyle XY;desse modo, quando se fala em Destino, se fala emXENA.
Do destino de Jessi, porém, vai depender de você acompanhar a série a partir de agora. Como penúltima análise, que nos guiará diretamente para a última, só posso comparar Jessi com uma vilã de XWP: a própria Xena. E essa conclusão me surgiu há pouco tempo, quando ao mesmo tempo em que defini Jessi como um reflexo de Xena, consegui definir Kyle como espelho de Gabrielle. Por quê? Bem, se Kyle é o alge da pureza em uma pessoa, se tratando de Jessi as coisas se tornam maisobscuras, por todo esse lance de trevas naturais, que fazem parte dela, e que muitas vezes ela não consegue controlar através de revoltas e mágoas. Como em XWP, Kyle está sempre pronto para acalmar Jessi, e suas tentativas em torná-la uma pessoa melhor, aproveitando toda a sua capacidade em ser alguém evoluído, são incessantes, uma grande prova de amor que Kyle a oferece de modo semelhante com que Gabby fazia com Xena o tempo todo. Até Jessi compreender também as adversidades do mundo e de que modo ela pode combater seu espírito – ela mesma se define como broken, algo como “partida”, “dividida”, “defeituosa” –, uma longa jornada – sua própria jornada, ao lado de Kyle ou não – a aguarda. E qual caminho ela trilhará dependerá somente dela, pois como toda vilã, ela sempre tem uma escolha a fazer. Sugiro que você, Xenite, que começará a assistir a série, faça suas próprias observações; afinal, XENA está em todo lugar, só a gente sabe.
Para quem já assistiu e já sabe onde essa história vai dar (ou IA dar, já que a série foi covardemente cancelada sem um ponto final na terceira temporada), algumas observações renderam (**SPOILERS!!!**): a mais óbvia comparação de “Kessi” com “Xelle” (tá, ignorem essa nomenclatura) é após o episódio 03×02 – Psychic Friend, no qual uma cartomante afirma que a alma gêmea de Kyle estaria em perigo. Kyle crê fielmente que sua alma gêmea é a então namorada Amanda (Kristen Prout [19]). Por uma observação da própria Amanda no final do capítulo, Kyle percebe que a pessoa a quem salvou foi Jessi, e aí começa uma nova fase para seu coração: seria Jessi, de fato, sua alma gêmea? Nada mais XWP do que isso. Outro ponto observado, após descobrir as origens de Kyle e Jessi, é comparar o nascimento na “banheira” com o episódio de XWP 06×16 – Send in the Clones, com uma Xena e Gabrielle criadas artificialmente. Mas isso é apenas uma observação boba que nem deveria constar aqui.
“Posso dizer que Kyle XY é aquela série que você olha e diz ‘Não vou assistir isso!’, mas garanto para você, que quando você assistir, não vai largar mais”, comenta Didi que não faço ideia de quem seja em um site de críticas sobre seriados. E eu digo o mesmo. O fato de Kyle XY não ter recebido um final apropriado para a qualidade de toda a série nunca me impediu de assistir a tudo avidamente. Lembro de ter assistido ao episódio piloto duas vezes, apenas porque era tudo tão perfeito como ponto de partida para a história do garoto Kyle que eu não podia imaginar como a série poderia continuar melhor do que já era. E não me arrependo de nenhum segundo sequer desde então.
Ainda quer saber se Jessi é ou não é uma bitch? Minha opinião particular: Jessi tem potencial. Para ser boa e para ser má. Simples assim. Ou não? Outra opinião: eu sempre acreditei em Xena até o fim. Outros não. Com Jessi, o embate espiritual quase que se repete. Ambas começaram como bitches, mas do futuro… bem, isso está nas mãos delas, e do Destino que decidirem escrever com suas ações.
Mês que vem, me ausento parcialmente da BP e abro caminho para minha amada e idolatrada manda a Vanusa se sentar aíMary Anne, que juntamente comigo na GP abordará uma personagem do mundo do Seeker e da Espada da Verdade, vistas na saga literária Sword of Truth, de Terry Goodkind, e no seriado Legend of the Seeker, também da rede ABC Studios. Nunca leu? Nunca viu?! Está perdendo uma grande história que, na TV americana, é produzida por ninguém menos que Rob Tapert eSam Raimi. Familiar? MUITO! Quer outro incentivo? Tudo é gravado na Nova Zelândia. Familiar de novo? Exato. E dá sempre um gostinho de quero mais. Assim como a BP, espero eu. Prepotência? Não mesmo. Confiança de que nosso trabalho recebe o prestígio de vocês, e sabendo disso é o que nos faz dedicar um tempinho todo mês para a nossa RX. Até mês que vem, desejo um ótimo artigo para a Mary Anne, e estarei de volta em abril. E não se esqueçam de votar e comentar, ok? Até