O dia em que 25 minutos levaram o Tumblr à loucura

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Se tem um canal que admiro muito por suas produções, é o britânico BBC (não confundir com ABC, por favor). Além de diversas mini-séries históricas/literárias, temos várias produções maiores como Merlin, Doctor Who, Sherlock, entre outros. E quem se atreve a negar que é muito gostoso assistir produções britânicas com aquele sotaque cheio de charme?

A última produção do canal que alvoroçou muita gente foi a mini-série True Love criada por Dominic Savage, que conta com famosos nomes da tv britânica como David Tennant (Doctor Who), Billie Piper (Doctor Who, Secret Diary of a Call Girl), Kaya Scodelario (Skins) e Lacey Turner (Being Human), e tem como diferencial o fato de ser semi-improvisada (os atores criavam as cenas a partir de sinopses que recebiam).

A série conta com uma fotografia linda e trilha sonora pra lá de fofa com direito à True Colors e Time After Time na voz de Eva Cassidy, mas vamos falar do que interessa, caso contrário isso não seria uma coluna do UberZone.

A premissa da série é trazer 5 episódios (independentes entre si, mas com ligações sutis) que contam histórias dessa coisa lendária chamada “amor verdadeiro”, e são trazidos à cena sempre com algum fator “complicado”.

Após ver no tumblr que Billie Piper (nossa querida ROSE, de Doctor Who) dava às caras na série, admito sem vergonha nenhuma que pulei os dois episódios iniciais e assisti logo o terceiro, no qual ela aparece (depois assisti os dois primeiros, mas a histórias são um pouco mornas se comparado ao rumo que a série toma no 3o, 4o e 5o).

Pois bem, meus caros leitores. Todo mundo sabe que histórias onde ocorre envolvimento romântico entre alunos e professores povoam a mídia há anos. Em 1964, Audrey Hepburn e Rex Harrison já protagonizavam My Fair Lady, como Eliza Doolittle e Henry Higgins, tendo cerca de 20 anos de diferença entre si. E outros exemplos mais recentes não faltam, sejam eles hétero (Pretty Little Liars, entre vários outros) ou gays (Loving Annabelle, Cracks) e agora, o episódio de nome “Holly” se junta à esse acervo, trazendo o casal batizado pelo shipname de “KOLLY” (Karen + Holly, e não, não é marca de guaraná).

Quem frequenta o tumblr, sabe que aquilo, mais do que um blog ou uma rede social, é um caldeirão cheio de fangirls e fanboys comentando sobre as mais variadas séries. Mas é raro ver uma produção de 25 minutos de duração (o tamanho do episódio em questão) causar tanta comoção. Talvez a receita tenha sido colocar Billie Piper, tão aclamada por Doctor Who e Kaya Scodelario, uma das queridinhas do fandom de Skins (filha de mãe brasileira e fluente em português, por sinal) tendo um romance em cena, talvez tenha sido o modo como a história é conduzida no improviso, mas o fato é que o “Kolly Episode” consegue ser bastante encantador, tão encantador que eu tive que procurar um pretexto pra escrever sobre ele aqui na Revista, e depois de assisti-lo pela terceira (ou seria quarta?…ok, lado fangirl falando) vez, finalmente tive alguns momentos de epifania pra comparar esse casal com Xena e Gabrielle.

É difícil precisar a diferença de idade entre as duas personagens na série, porque apesar de ter sido mencionado que Karen tem 16 anos, em nenhum momento foi mencionada a idade de Holly, mas acredito que seja seguro afirmar que  essa diferença não passe de uns 10 anos. Para alguns parece bastante “chocante” colocar uma menina de 16 anos e uma mulher de cerca de 25/26 tendo um relacionamento numa história, mas não existe nada de inédito nisso se vermos o histórico de filmes que abordam o tema (vale lembrar que a Idade de Consentimento no Reino Unido é 16 ou mais, diferente de no Brasil, onde é 14). Para aqueles que tem a visão Subber, dentro de XWP, é válido lembrar que mesmo Xena e Gabrielle, possuem cerca de 10 anos de diferença dentro da história, tendo Gabrielle por volta de 17, quando deixou potédia e Xena mais ou menos 27/28 no início da série.

Mas afinal, que semelhanças existem entre Karen/Holly e Xena/Gabrielle? 

Assim como ocorre com Xena, no início de XWP, Holly se encontra bastante desestruturada nos minutos iniciais da narrativa.

Assolada por um sentimento de solidão, mantém um caso emocionalmente exaustivo com um homem casado, que apenas lhe objetifica não demonstrando nenhum tipo de afeto genuíno, sua carreira como professora de uma escola secundária só lhe traz frustrações e sua mãe lhe inferniza diariamente para que ela “arranje alguém” e deixe de ser tão sozinha. Ao mesmo tempo, Holly apresenta um grande sentimento de deslocamento, como se não soubesse a que lugar pertence, não satisfeita com a pequena cidade de Margrate. Holly tem um espírito viajante, mas pelas necessidades da vida acaba se “assentando” num lugar que não lhe traz nenhum aconchego emocional.

No meio de um grupo de estudantes caóticos, está Karen, uma jovem apaixonada pela arte (seja literária ou plástica) que demonstra um sentimento de empatia para com Holly. Aos poucos, alimentada por interesses comuns, uma forte amizade vai se estabelecendo. Karen, talvez devido à sua maturidade incomum para a idade, ou talvez pela falta de maturidade de todos os colegas que lhe rodeiam, se sente deslocada num ambiente onde ninguém de sua idade compartilha de seus interesses e idéias. Em aulas de arte extra-curriculares, onde Holly também é sua professora, ela tem a chance de professar a admiração que sente pela mulher mais velha e a partir dali uma amizade nasce e vai crescendo entre as duas.

Karen com seu espírito falante, consegue aos poucos ir derrubando as barreiras que Holly coloca entre ela e o resto do mundo, e vai descobrindo as camadas que compõem sua personalidade, embora algumas dessas camadas sejam mais difíceis de desvelar, como por exemplo, sua vida amorosa.

Bom, a partir daqui tenho que deixar avisado que haverão spoilers, então se você ainda não viu o episódio e não quer saber nenhum fato mais profundo do enredo, não prossiga!

 

 Spoilers à frente!

Ainda que na posição em que se encontram (aluna/professora) um envolvimento seja a coisa menos sensata a se fazer, isso inevitavelmente ocorre. Karen consegue derrubar a barreira final que Holly mantinha, e fica sabendo do envolvimento da mulher com David, o homem casado citado acima. Em vez de lhe julgar prontamente apontando seu erro, como certamente a maioria das pessoas de uma cidade pequena como Margrate faria, Karen lhe acolhe, e sofre  junto dela quando Holly não contém as lágrimas ao desabafar num tom de culpa, deixando claro que por mais complicada que possa ser a situação, ela está disposta a estar lá para ela.

A partir desse momento, ambas se envolvem e a alegria de cada uma se torna bastante visível em cada troca de olhares ou palavras. O que evidentemente era para ser mantido em segredo, acaba sendo percebido por uma colega de Karen, e aquele filhote de bacante batizada pela Alti Lorraine espalha o suposto boato para a classe toda fazendo com que os alunos que já não demonstravam nenhum respeito por Holly, achassem uma razão para confrontá-la.

Nesse momento, Holly chega a conclusão que a decisão mais sábia a ser tomada, para evitar consequências maiores que não afetariam somente à si, mas principalmente Karen, seria ir embora, não apenas largar o emprego frustrado como professora de Inglês, mas também deixar a cidade a qual finalmente havia encontrado um motivo para pertencer.

Eu já destaquei acima, em negrito, alguns dos pequenos pontos que aproximam esse casal de um Uber XG, mas é num dos momentos finais do episódio em que Karen toma uma atitude que me fez pensar “Isso é TÃO Gabrielle!”.

Quando Holly anuncia sua intenção de partir, Karen imediatamente se prontifica a partir com ela. Ainda que a mulher mais velha proteste dizendo que isso seria insensato, Karen se mantém firme na sua decisão, tal qual Gabrielle ao tomar a decisão de partir de Potédia com Xena.

Ainda existem alguns outros pontos, como o comportamento protecionista de Karen toda vez que vê Holly vulnerável (quem não lembra de Gabrielle com o coração apertado, toda vez que Xena passava por alguma tribulação emocional ou física e vice-versa) e ainda que a personalidade de Holly não seja exatamente forte, como a de Xena, lembremos que a caracterização de um Uber não exige total similaridade de características (vide Melinda Pappas).

 

Fim dos spoilers

 

Então fica aí a dica para quem quiser conferir a mini-série. São 5 episódios de 25-28 minutos cada um. Como falei, os dois primeiros são um pouco mornos (apesar da presença de David Tennant no episódio 1), mas a partir do terceiro (evidentemente, meu favorito) as coisas ficam mais interessantes.

É incrível ver o talento de todo esse grupo de atores que teve de se virar na improvisação, acrescentando um toque super pessoal à cada cena!

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8 Responses to “O dia em que 25 minutos levaram o Tumblr à loucura”

  1. ABarda disse:

    Eu só assisti esse episódio de True Love. Estou tão atrasada com as minhas séries que colocar mais 4 episódios já é muito.
    Eu adorei Kolly. Apesar de ter durado só 25 minutos, foi o suficiente para criar um fandom imenso (minha dashboard era só Kolly nos dois dias seguintes).
    Algumas pessoas reclamaram da falta de diálogo do episódio, mas eu acho que não ficou devendo em nada. Foi uma história feita de uma forma bem sensível e, como várias pessoas apontaram lá no tumblr, o maior choque não era o fato de ser um relacionamento entre duas mulheres, e sim, entre uma professora e sua aluna. (BTW, o primeiro filme com conteúdo lésbico feito, Mädchen In Uniform, de 1931, também contava uma história do tipo professora/aluna)

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  2. Pedro Henrique disse:

    Deve ser no mínimo interessante assistir a uma série improvisada, ainda que semi.
    Não li a parte dos spoilers, pois fiquei interessado pra assistir. Uma pena que talvez eu não tenha um tempo para isso em breve.
    Assim que puder, eu vejo True Love! :)

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    • Aryane Mello disse:

      Mentiroso, só vai assistir se tiver umas bee nos episódio! confessa! #VIXE

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  3. Aryane Mello disse:

    Ai Maryzelda….
    Que artigo mais… ABRAÇÁVEL!
    Aliás, abraçável mesmo é Kolly ‘bua
    Quem não queria um amor desse? Eu sonhei com uma professora a vida toda, imagina minha emoção ao ver o episódio…
    Por Zeus, Billie Piper tá linda demais… Sei q vc prefere a aluna, mas a “Rose” pra mim, é inesquecível e sempre será ela. ‘bua

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  4. Alê Chmiel disse:

    Bacana o artigo! A BBC sempre arrebenta, adoro as séries deles, como SHERLOCK e THE FADES.
    Incrível que tu também pensa assim, sempre catando X&G por tudo que é trama huehuehheehu É o fator xenite sempre falando mais alto.
    Parabéns pelo artigo, deu pra perceber sua empolgação ^^

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  5. Giulia Listo disse:

    Adoro a BBC mas nunca assisti nada que não fossem as séries históricas/literárias e os filmes idem.
    Mas agora vou ter que assistir, porque essa relação professora/aluna sempre me chama a atenção, estou sempre caçando filmes e séries com esse tema. Então estou indo baixar agora mesmo haha
    Obrigada pela indicação, e gostei da comparação com X&G. Também faço isso com muitas coisas 😀

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  6. Tai disse:

    Me interessei, talvez eu também pule algum episódo, mas gostei do spoiler (eles sempre me estimulam). Sempre achei esses relacionamentos com diferença de idade algo bizarro, talvez seja porque me imagino na situação da pessoa e me interresando em alguém que poderia ser minha tia, mãe… Parece até algo edipiano. Mas para quem ama Lolita como eu… HAHAHAHA, isso não é nada.

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  7. Marina disse:

    Só pelo título já soube do que se tratava. haha

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