Mistress Cara: Implacável. Temida. E amada.
Por: Mary Anne
Girl Power n. 31
por Mary Anne
Faz alguns meses desde que o Bitch Power sobre Mistress Denna foi escrito e desde então eu tenho me preparado para falar sobre outra Mord Sith aqui, mas desta vez no Girl Power. Isso não quer dizer que a Girl do mês seja uma heroína doce como um anjo, afinal, ELA É uma Mord Sith também. Caso alguém não saiba o que é uma Mord Sith, leia os parágrafos iniciais do artigo sobre a Denna: http://www.revistaxenite.com.br/?p=802
Vamos em frente. Assim como expliquei no artigo sobre Denna, tenho que esclarecer logo de início que também existem DUAS Caras (sem trocadilhos, ok?) no Seekerverse, a Cara personagem da saga de livros Sword of Truth, e a Cara da série, Legend of the Seeker. Porém, ao contrário de como ocorre com Denna, as diferenças físicas e psicológicas entre personagem do livro e da TV não são tão grandes. Arrisco-me até a dizer, que Cara foi uma das personagens mais fielmente retratadas em Legend of the Seeker. E é da Cara de LOTS que começarei a falar aqui.
Interpretada pela linda e talentosa australiana Tabrett ‘jesus-me-abana’ Bethell, loira e com estonteantes olhos verdes, Cara aparece pela primeira vez em Reckoning (1X22) ainda sob comando de Darken Rahl e com uma missão nada mole: capturar Richard antes que ele bote as caixas da Orden pra funcionar. Mas uma POWERFUL MAGIC, como sempre, acontece e os dois vão parar muitos anos no futuro, onde encontram um mundo devastado em virtude do governo do Rahl. Richard a convence que a melhor chance de voltar para o lugar onde pertencem é lutarem juntos.
Uma das cenas mais marcantes de Cara no episódio é quando ela entra no templo das Mord Sith e encontra os restos mortais de suas colegas, se aproxima de uma delas e com os olhos marejados diz seu nome.
A cena nos deixa bem claro que Cara é diferente da nossa velha conhecida Denna, que jamais demonstrou emoções. Menos durona, talvez? A gente descobriria em breve.
Como esperado, Cara se torna uma personagem regular na segunda temporada, e Tabrett Bethell chega arrasando e ganhando o coração dos fãs. E como previsto, ao lado de Bridget Regan, acaba roubando a cena, e ofuscando o próprio protagonista da história.
Com a morte de Darken Rahl, a fidelidade de Cara é direcionada a Richard, que diferente do irmão, não a trata como uma mera escrava, mas como amiga. E mesmo Kahlan e Zedd, que relutaram em confiar nela de início, acabam criando um laço de amizade com a temível mulher de vermelho.
Como a Cara do livro se difere disso? Bom, pra começar, sua chegada é menos conflituosa: liderando um grupo de Mord Sith, ela o salva e logo jura fidelidade a Richard Rahl, não deixando dúvida sobre suas intenções e, dessa forma, não precisa lutar para ganhar a simpatia de Zedd e Kahlan. Mas isso não quer dizer que sua história seja menos complexa e conflitada do que a da Cara da série. O que a série fez, na verdade, foi recuperar o background da personagem e adicionar nela características de outras Mord Sith presentes em Sword of Truth. O episódio Broken, sobretudo, retrata muito sobre o que ficamos sabendo de Cara no quarto volume da série, Temple of Winds.
Como todas as Mord Sith, ela foi capturada ainda jovem, momento do qual ela relembra vividamente de sua hesitação em matar os homens que a sequestraram, hesitação que mudou sua vida para sempre. Entretanto, ainda que essa hesitação seja seu maior arrependimento, ela não lamenta seu destino como Mord Sith, e tenta desempenhar seu papel da maneira mais competente e determinada possível.
Tendo sido mantida no escuro, com ratos mordiscando sua pele durante a noite, e de dia sendo treinada e passando pelos três testes finais – dobrar sua mãe, seu pai, e por fim matá-lo – Cara cresce para ser destemida e letal em batalha. E de fato, poucas coisas botam medo nessa guerreira ferrenha: Mágica – como todas as Mord Sith –, falhar no dever se proteger o Lord Rahl, ratos, e a ideia de morrer velha e desdentada numa cama.
Algumas características de outras Mord Sith que acabaram sendo incorporadas na personagem da série é sua relação – por assim dizer – com os esquilos, que ela “herda” de Raina, a qual é mostrada numa cena onde o charmoso Leo Dane tenta conquistar Cara, e sua bissexualidade, que originalmente era característica do casal Raina e Berdine.
Logo no primeiro episódio Cara aparece dando um beijo de dominação em Triana (sim, aquela pela qual ela chorou em Reckoning), o que nos levou a perceber que elas provavelmente tiveram um affair no passado.
Isso foi o suficiente (e acredito eu que, menos do que isso já seria suficiente) para centenas de subbers, órfãos do maintext subtexto de XWP se convertessem em “Confersiths”, e passassem a “shippar” “Kahra” ( KAHlan+ CaRA). E é claro que nossos velhos conhecidos, Tapert e Raimi, se aproveitaram da nobreza dos fãs, e revolveram dar uma provocada básica. O episódio Desecrated está de prova, onde eles enfiam Cara e Kahlan confinadas numa tumba, quente, com o ar acabando e com um papo sentimental rolando:
“Você uma vez disse que esse é um mundo difícil e não temos muitas chances de dizer para as pessoas o quanto elas significam pra nós. Não há ninguém que uma Mord Sith deve odiar mais que uma Confessora. Eu fui treinada pra te odiar. Mas não odeio. E eu não quero morrer sem você ficar sabendo… que eu te considero… minha amiga”
Após o papo sentimental, Cara tenta se matar para evitar que o ar acabe tão rápido e Kahlan possa viver, mas Kahlan obviamente não concorda com isso e elas entram numa briga digna de Xena e Callisto, onde Cara grita “PARE DE FINGIR QUE MINHA VIDA VALE TANTO QUANTO A SUA”, e por fim ambas caem sem ar e de mãos dadas.
É claro que Tapert e Raimi, sabendo que a receita de 15 anos atrás deu resultado, não pararam por aí, e posteriormente desenterraram um antigo affair de Cara, e faltando três episódios para o fim da série, conhecemos e odiamos com força Dahlia, com quem Cara protagoniza cenas dignas de um The L Word D’Haran.
Mas não, o subtexto que rodeia a personagem não é a única característica que a aproxima do Xenaverse. Sua personalidade e seu jeito de “vilã aprendendo a ser boazinha” trazem uma personagem psicologicamente muito parecida com Xena, sobretudo com a Xena das primeiras temporadas. De início, tentando manter sua postura gelada e intocável (vide Baneling, 2X22), cheia de tiradas irônicas, mas depois deixando seu lado mais monange macio à mostra, o que é possível conferir em cenas como a que mostra Cara admitindo seus sentimentos e sofrendo pela morte de Leo Dane, ou lutando bravamente para salvar uma nightwisp.
Outro ponto bastante apreciado, tanto no livro quanto na série, é o seu humor peculiar, com tiradas irônicas ou dizendo aquilo que todo mundo pensa mas não tem coragem de externar, lado esse que podemos conferir em episódios como Creator ou Princess, onde ela própria se obriga a vestir-se de princesa, se comportar como uma lady e falar rimado. Na saga, ela vive “tirando” com a cara de Richard e desafiando suas ordens “de brincadeira”, para tirar o Seeker do sério, coisa que demonstra o grande laço de amizade que se forma entre ambos.
“Se você acabar morto tentando governar o mundo eu vou pessoalmente quebrar cada osso do seu corpo” (Cara, em Blood of the Fold).
Mas malvada ou boazinha fingindo ser malvada, uma coisa é fato: Cara nos ganhou, e não precisou nem nos dobrar pra isso. É possível ver no fandom, que de modo geral, tanto a Cara da série quanto a do livro, é uma das personagens mais amadas pelos fãs. O motivo disso é difícil dizer, afinal a personagem acaba se mostrando tão complexa e profunda quanto à própria Madre Confessora. Particularmente, um dos aspectos que acho mais interessantes nessa Mord Sith é sua lealdade inquebrável por Richard e Kahlan, o que a transforma não em apenas uma protetora pessoal de ambos, mas uma amiga com quem eles podem contar para tudo.
Artigo perfeito , principalmente pra quem não leu os livros. Tambem acho a devoção pelo Hall a coisa mais importante e fascinante da Mord sith. Me lembra muito amazonas. A força dela me lembra Xena mais que força física a força de vontade. Quando ela vai na caverna salvar as meninas mas não queria as meninas queria as Mordsith que pegaram ela… foi legal. Ela anda com a Confessora todos os dias sabendo o poder que essa mulher tem. Parabéns pela escolha e pelo artigo.