I WILL SURVIVE | Descobrindo-se gay

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É difícil se assumir para os pais, para os amigos… Mas principalmente, para si mesmo.
Acredito que boa parte dos homo e bissexuais passaram, passam ou ainda irão passar por essa fase confusa, porém determinante em nossas vidas.

A sexualidade varia conforme o sexo do ser humano. E de uns tempos pra cá, as coisas vem mudando e as pessoas tendem a descobrir interesses sexuais muito mais cedo do que na época de nossas mães, por exemplo.
Hoje em dia, é possível ter sensações sexuais a partir dos dez anos de idade. Sim, eu sei, é cedo demais. Muitos(as) de vocês devem estar imaginando: “Poxa, nessa idade eu brincada de boneca!” ou “Com 11 anos eu ainda brincava de carrinho, pô!” Mas é a realidade atual.

As meninas estão menstruando com menos idade, desenvolvendo seios e a curvatura do corpo mais cedo também. Com a ajuda apelativa da mídia e do encorajamento da sociedade, elas passam a se enxergar como adolescentes quando ainda era necessário comportarem-se como crianças, por ser mais natural e assim, darem o devido tempo para a infância ir se desfazendo aos poucos.

Já os meninos, desde cedo começam a conhecer o próprio corpo. Muitos garotos perdem a virgindade antes dos 12 anos, normalmente com mulheres mais velhas ou, no caso dos gays, com amiguinhos da mesma idade. Isso deve-se ao fato de que os pais esperam uma reação sexual dos filhos homens o mais rápido possível. O papo “sexo” começa muito cedo nas rodinhas de amigos masculinas e também entre os homens da família.

Garotas homossexuais tendem a ser mais confusas e procuram negar a sexualidade durante um tempo, até perceber que era aquilo mesmo que ela sempre quis: a presença de uma mulher ao seu lado. Há, na percepção delas, um medo gigantesco de desapontar as mães, que sonham com o casamento e os netos em um futuro próximo. Sentem-se acuadas e procuram tentar de todas as formas se interessar por meninos, assim como suas amigas fazem.
O interesse, normalmente, acontece lá pelos 12 anos de idade, quando finalmente começam ir ao cinema, participar de jogos de verdade ou desafio com os colegas da escola… Aí a menina percebe que gostaria mesmo é de ganhar um selinho da melhor amiga. “Ela é tão cheirosa! O cabelo dela é tão sedoso… E nossa, como é gostoso sentir nossas mãos juntas!”
O problema é quando você percebe que isso não é comum. Nenhuma das outras meninas da turma, se interessam assim pela melhor amiga. Elas querem mesmo é os meninos, aqueles fedidos, mau educados, que só pensam em futebol! Sim, é exatamente assim!

Como eu disse antes, os meninos buscam conhecer seu próprio corpo logo quando crianças. Lá pelos 8, 9 anos ou até antes, já manipulam seu orgão sexual, primeiramente para entendê-lo, por causa da curiosidade e depois, também com o apoio do pai, começa a perceber que o toque pode lhe proporcionar algum tipo de sensação diferente… Uma sensação boa!
Depois disso, passam a compartilhar da experiência com os amigos e é aí que começam a se tocar mutuamente e o garoto passa a perceber que sente-se bem na presença de outro amigo. Mas o sentimento é mais carnal, mais pela busca do prazer, não com a mesma ideia de “carinho” que a menina tem. Só mais tarde, quando amadurecer, o menino perceberá que está apaixonado e que possui sentimentos amorosos para com o seu semelhante.

Dói, descobrir que é gay. Não é nenhuma festa! Não há ninguém para te apoiar. Você olha dos lados e não possui nenhum amigo que está passando pela mesma situação que você. E se possuir, ele também está travando uma guerra interna consigo mesmo e não vai colocar pra fora e buscar conversar sobre isso.
É errado! Seus pais vão te odiar quando descobrirem! Vão te colocar pra fora de casa! Sua mãe vai entrar em depressão… Vai se arrepender de ter tido você como filho. Seu pai então…
Se você for mulher, o grande problema é com a mãe. Por motivos claros e jah ditos anteriormente: casamento, netos… Ela não vai ter nada disso!

E se você for homem… Vai ser extremamente difícil seu pai encarar que o filho que ele espera que seja um garanhão, um garoto pegador, cheio de masculinidade, gosta mesmo é de meninos.

Não é fácil pra ninguém! A primeira ideia é esconder de todas as formas possíveis… E até impossíveis!
Você começa a esconder históricos no computador, apaga conversas, não trás para casa pessoas que podem colocar pulgas atrás da orelhas em seus pais e principalmente, começa a ter relacionamentos nada reais, com pessoas do outro sexo, só para manter a ideia de que você é aquilo que todos esperam ser: heterossexual.

Acontece que depois de travar uma luta engenhosa consigo mesmo, a situação cansa. E além de cansar, você começa a deixar vestígios, porque não é fácil esconder uma identidade. Não é fácil ser “outro” o dia inteiro.

Trago aqui um depoimento de Alex Jr. Ele não é Xenite, é apenas um gay que conta detalhadamente como foi sua experiência de auto descoberta. É incrível o texto inteiro, porém só tirei um trecho excepcional:

“Sempre me achei diferente dos outros meninos da minha idade. Sempre gostei de brincar com meninas (pelo tipo infantil e inocente das brincadeiras) mas sentia forte atração carnal por meninos. Embora conhecesse alguns gays famosos, quando comecei a me entender homossexual, achava que teria que me vestir de mulher, falar fino e com trejeitos muito femininos. Por isso, não me aceitava e me frustrava muito. Não tinha com quem conversar e dividir minhas descobertas, medos e minhas frustrações. Afastava-me das pessoas com medo que alguém pudesse perceber que eu era “viadinho”. Essa palavra, aliás, me magoava profundamente. Os colegas que me atacavam, normalmente usavam essa palavra para me afrontar e, normalmente, isso me causava mal pior do que se me batessem… Isolava-me das pessoas em um mundo só meu por medo de ser “descoberto”.”

Nos próximos artigos da RX, entraremos em contato com o mundo dos esteriótipos que o mundo sobrepõe aos gays (“viadinho”). Entretanto, no mês de Julho, discutiremos sobre “Sair do armário” (assumir-se gay para a sociedade). Que é um passo enorme, complicado e que deixa muitas cicatrizes em alguns homossexuais.

Para finalizar, é importante que todas as pessoas que estão se descobrindo gays passem sim por essa fase de aceitação e não tomem atitudes precepitadas, como sair contando aos quatro ventos o que está acontecendo, ou trancar-se dentro de casa e deixar de ter um convívio social. É extremamente normal essa confusão dentro da cabeça, essa tristeza constante dentro do peito, que te faz pensar não ser um bom filho, um bom irmão ou até mesmo, um bom amigo, só por sentir atração física por outro homem/mulher. Tudo tem seu tempo. E o mais importante, cada ser humano tem seu tempo. Não importa o quanto dure, se você ainda acha que precisa experimentar mais, se está com dúvidas sobre “ser homossexual”… Procure ler, se informar e principalmente, acalmar seu coração. Pode parecer um bicho de sete cabeças agora, mas daqui uns anos, você vai estar feliz, lembrando de como tinha tanto medo e agora encontrou paz.

Se alguém quiser me mandar algum depoimento sobre “sair do armário”, para o próximo mês, fiquem a vontade: [email protected] As identidades estarão seguras e ninguém será exposto.

Dúvidas, possível futura participação escrevendo para a coluna e críticas, também serão aceitas.

Um beijos… E lembrem-se! YOU WILL SURVIVE!!

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9 Responses to “I WILL SURVIVE | Descobrindo-se gay”

  1. Titus disse:

    ” Pode parecer um bicho de sete cabeças agora, mas daqui uns anos, você vai estar feliz, lembrando de como tinha tanto medo e agora encontrou paz.”

    Ary, você é linda, sem mais
    <3

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  2. ABarda disse:

    É bom ter textos como esse, para que quem está passando por questionamentos a respeito da própria sexualidade possa ver que não é o único a ter essas dúvidas e medos.
    Ótimo texto!

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  3. Mary Anne disse:

    Muito interessante! Como dica, sugiro que você em alguma futura coluna fale um pouco do Trevor Project, projeto americano que visa ajudar adolescentes, principalmente homossexuais, a lidarem com situações do tipo oferecendo uma linha aberta para conversa e desabafos, com intuição de diminuir um pouco o fardo e como consequência, evitar casos trágicos, como o grande número de suícidio em decorrência de bullying e conflitos internos.

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  4. Ary tem razão: a gente sempre ri das épocas onde a vida era apenas engolir a saliva e esconder o suor na testa por conta de situações tidas pela sociedade como “indecentes”, como assumir que se é homo e que se ama alguém do mesmo sexo.

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  5. Chapo disse:

    Aí a menina percebe que gostaria mesmo é de ganhar um selinho da melhor amiga >>> nesse caso, eu ROUBEI o beijo. E a mina sumiu da escola. Coitada uhauhahuahua
    _

    Não vou falar muito pq acho q vou mandar meu depoimento da minha nada hetero vida.
    Mas parabes pelo artigo, pela iniciativa, coragem e tudo q demanda botar a cara no mundo pra falar de coisas do tipo.
    Acho digno de colocar o link da materia em sites LGBTSHAISJIAJAI( e sei lá qntas letras tem essa sigla)

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    • ABarda disse:

      hahahaha Essa sigla é complicada. Esses dias pra trás vi LGBTTIQQ (lesbian, gay, bisexual, transexual, transgender, intersex, queer and questioning)

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  6. Thalita disse:

    Ary, para desfazer qualquer mal entendido sobre agente…
    ÓTIMO ARTIGO! Quando vc falou do cheiro do cabelo…eu me lembrei
    como ficava alucinada quando sentia o perfume que saia do cabelo de minhas amigas. O cheiro é algo que realmente atrai, talvez até seja umas das primeiras coisas que notamos a diferente entre meninas e meninos. Muito bom mesmo, tanto o artigo quanto a iniciativa. Posso te mandar o depoimento sobre a saida do armário?

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  7. Alê Chmiel disse:

    O cheiro é um dos fatores mais fortes na hora da atração, isso inclusive já foi comprovado. E por mais que as mulheres sejam cheirosas e lindas e gostosas, não tem como negar o que meu íntimo diz quanto a situação foca no lado masculino.
    E tu foste muito sincera e transparente ao dizer que dói demais, mas depois vira apenas uma lembrança de sofrimento. Me considero um guerreiro por não ter baixado a cabeça na hora em que era tudo ou nada – escolhi ser feliz.
    Parabéns pela coluna, novamente.

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