Apenas pessoas
Por: Mary Anne
Por Mary Anne M.W.
Fica difícil vocês acreditarem que eu não goste de telenovelas, depois desse artigo, considerando que é o segundo que escrevo tocando nesse assunto, mas mesmo correndo o risco de destruir minha reputação, eu não podia deixar isso passar.
Sobre meu artigo passado, é, parece que Stela e Catarina já eram. Catarina deu uma de Gabrielle de segunda temporada e achou um Pérdicas do bem sem graça pra ela. Justo? Justo.Afinal novela retrata vida real, e isso acontece.
O que tenho observado contudo, é o público tacando pedras no autor alegando o seguinte : Se o Orlandinho pode virar hétero, por que a Catarina não pode virar gay?
O fato do gay alegórico da novela ter resolvido desgayzificar parece ter despertado o descontentamento de algumas pessoas. Mas será que desgayzificou mesmo?
Ontem com a tv ligada na sala escutei o seguinte diálogo:
Personagem chata da Déborah Secco: Você é gay ORLANDINHO!!!!!!
Orlandinho: Eu sou GAY mas eu te AMO Maria do Céu!!!!
Aí, o que tem gente chamando de preconceito, fazer um gay se apaixonar por uma mulher na trama, eu chamo de revolução.
Como assim, vocês devem estar se perguntando, o que de tão revolucionário existe nisso?
Simples: a quebra dos paradigmas instalados na mentalidade da nossa sociedade.
É fato que o preconceito não se faz tão presente como há décadas atrás se fazia, contudo não quer dizer que ele não exista. E a sociedade heteromormativa em que estamos todos inseridos leva algumas idéias, que embora muitas vezes não apresentem preconceito propriamente dito, apresenta uma mentalidade petrificada.
Exemplos? Não é comum manifestações de surpresa quando se comenta que aquela garota super-feminina é lésbica? Não existem homens que carregam um jeito meio delicado sendo chamado de “bichinhas” mesmo sendo heteros?Não existe gente que acha que só se descobre gay na adolescência, depois da idade adulta isso não é possivel? Ou alguém dizer que o fulano não deve ser gay porque tem o maior jeito de macho – sem parar pra pensar que tem gay que é mais macho que muito heterossexual frouxo – ?
Enfim, o pensamento social está cheio de fósseis , onde se confunde principalmente Orientação Sexual e Identidade de Gênero.Não vou aprofundar aqui as explicações desses dois conceitos( visto a complexidade do assunto, foi necessário 3 horas numa oficina sobre o assunto para que meus colegas de faculdade entendessem e ainda assim, uns sairam nao tendo entendido nada) , mas seria legal se todo mundo procurasse se informar sobre as diferenças.
Vocês devem estar pensando que eu escrevi, escrevi, escrevi, mas não citei Xena até o presente momento.Bom, chegou a hora de explicar o que todo esse bolo tem a ver com Xena.
É comum ver pessoas que discordam que Xena e Gabrielle tenham tido uma relação romântica, utilizando como escudo de batalha a velha e manjada frase “Xena e Gabrielle não eram lésbicas.Elas se envolveram com homens”. E aí tem gente que ficar surpresa quando eu, subtexter declarada digo “claro que não, mas isso não impede ela de amar Gabrielle num grau romântico”. Tem gente que entende meu ponto de vista.Tem gente que fica confusa. E tem gente que acha que estou falando uma sandice.
Em resumo, o que eu tento expressar é uma desvalorização da rotulação ao falar de orientação sexual e identidade de gênero.
Deixando de lado a maluca escala de Kinsey, fica bem mais fácil pensar que não somos heterossexuais, homossexuais, bissexuais, transsexuais, panssexuais ou assexuados, mas SIM, somos PESSOAS. Pessoas cada uma com suas emoções, com seus desejos, com seus anseios, em busca de sua outra metade.
Será que o amor – romântico, é desse que falamos aqui – nasce da característica sexual física? Não. O que nasce disso é a atração e ambos são duas coisas muito bem distintas. Atração não leva necessariamente ao amor. Amor, eventualmente levará a atração que dará origem ao meio de interação. Mas amor é coisa de alma, de química – não física -, de emoções, de personalidade. E isso, pode MUITO bem acontecer com duas PESSOAS, independente do que cada uma carrega em seu corpo.
É isso que vejo quando penso em Xena e Gabrielle como um casal. E na novela das oito, não tem um gay que está virando hétero porque se apaixonou por uma mulher.Tem uma PESSOA, que descobriu em outra PESSOA seu objeto de afeição.
Não é simples?