A César o que é de César!

Por:

 

Chapo

 

Um nome tão poderoso quanto esse não poderia ficar de fora da RX. No entanto, ouso proferir, seria uma afronta a História falar do grande Caio Julio César sem mencionar Brutus, seu filho, irmão, camarada. Seria como contar sobre Cristo sem falar de Judas.
Por essa razão, o artigo que se segue conta um pouco da história dos dois e, claro, com Xena sempre presente.
Divirtam-se!
Na época do Triunvirato (1), Julio César era somente um mero advogado descendente de aristocratas (2).
Era conhecido por sua brilhante oratória e com ela colocou muitos políticos corruptos atrás das grades.
Ainda jovem, fez uma viajem a Rodes para estudar filosofia. Seu barco foi abordado por piratas que o sequestraram e pediram o resgate de vinte talentos (3) de ouro; César sugeriu veemente que pedissem o dobro. Um mês depois de um cativeiro de conforto e em meio a amizades frescas, o resgate chega e César é liberto em plena forma e saudável. Longe de seus sequestradores e desfrutando de sua liberdade, César ordena a captura e crucificação dos piratas.
Em XENA, ela faz parte desse grupo de piratas e, ignorando o aviso de M’Lila para tomar cuidado, alegremente recebe César em seu barco na esperança de reatar sua aliança para conquistar o mundo. Mas nós sabemos que não foi bem assim, e Xena é então crucificada, iniciando-se um ódio que ela carregaria por anos.

César colecionou muitas conquistas com suas técnicas de ‘’dividir e conquistar’’, derrotou povos helvéticos, a confederação belga, os nérvios, os venécios e, de quebra, conquistou toda a Gália, ao derrotar seu antigo amigo Vercingetórix (4), parte da Germânia, e ainda teve tempo de fazer uma incursão às Ilhas Britânicas (lembram-se de Boadicea enfrentando César com seu exército no episódio The Deliverer?).
No Egito, em busca de Pompeu, destronou Ptolomeu XIII e colocou Cleópatra para governar o Egito como Faraó. Ao ter um filho com ela, Ptolomeu XV ou Cesárion, tornou-se dono do Egito também.
O Senado entrou em completa desordem quando Pompeu faleceu, mas César controlava todo o mundo romano e fora cognominado Pai da Pátria. Ele desfez todo o regime que julgava caduco e fez reformas em todo o território. Inclusive no nosso calendário, onde o mês Quintilis foi rebatizado, em sua homenagem, para Juliae (ou Julho).
Brutus era filho de outro Brutus. Esse conquistou a glória quando trouxe o fim à Era dos Reis em Roma ao exilar os Tarquínios do território e dar início à República Romana.

Esse feito fez da família Brutus uma família respeitada, digna de confiança e, acima de tudo, defensora da tirania.
Sua amizade com César era cega. Ele era o filho que César nunca tivera e César o pai que ele projetava. 
Plutarco (5) descreve a resposta de César às inúmeras advertências de traição que recebeu:
Mas o quê! Acham que Brutus não esperará a dissolução dessa miserável carne?
Os historiadores entendem essa resposta como a ideia de que Brutus sucederia a César no poder.
Era um amor cego, mas não era um amor burro, pois César sabia que seria traído. Talvez não por parte de Brutus, mas depois de colocar gauleses cabeludos, celtas de caras azuis e plebeus no senado, era óbvio que desagradaria os aristocratas. Afinal, os antes bárbaros inimigos agora compartilhavam dos mesmos direitos romanos, eram de hierarquia equivalente.

A morte de César
Tudo foi organizado em silêncio, sob o mais absoluto sigilo, e tiveram trabalho para convencer Brutus a participar desse assassinato. Inventaram um boato sobre um projeto de lei que nomearia César rei (6).
Em XENA, bastou que ela falasse sobre essa intenção que Brutus… digamos… broxou na sua imagem de César.
Mas era uma obrigação de família, Brutus descende dos libertadores da tirania. Sua adaga era indispensável nesse feito. Era preciso fazer o certo. A democracia estava em risco, pois um tirano era dono de todo o império e dele poderia fazer o que quisesse. Primeiro foram bárbaros para julgar o que era de melhor interesse para Roma. E depois? O que a ganância do tamanho do Egito iria fazer? Toda a luta de Brutus para libertar Roma dos reis tiranos cairia por terra! E seu filho, que carrega seu tão aclamado nome, se calaria perante isso?

 

Nos Idos de Março, como de costume, o Senado se reúne. Era o dia perfeito, simbólico para a morte do ditador (7) e tirano.
Julio César é morto por volta do meio dia com vinte e três facadas, sendo duas no rosto e uma apunhalada no coração desferida por Brutus (8). 
Ele provavelmente não pronunciou a famosa frase ‘’Até tu Brutus?’’ ou ‘’Até tu Brutus, meu filho?’’, pois uma pessoa estaria em choque e dificilmente conseguiria pronunciar qualquer palavra entendível. 
Ele ficou caído aos pés da estátua de Pompeu (9) e cobriu seu rosto antes de morrer simbolizando a vergonha que sentia no momento (10).
A desordem que se seguiu no Senado e a consequente divisão de opiniões geraram guerras nas províncias, e o tão sonhado progresso através da democracia morreu de olhos arregalados em espanto e decepção. Só então Brutus pôde perceber o quão afetada ficou Roma com a morte de seu Imperador que nunca exigiu um trono.
Em seu testamente, deixou uma quantia de setenta dracmans para cada cidadão romano e jardins diversos além do Tibre. O povo então sente o grande Rei que perdera. 
César fora morto pelos grandes amigos que um dia ele perdoou (11).
Era um grande comandante, mas dividiu suas emoções de sua sensibilidade e sucumbiu à própria morte.

  1. Acordo verbal feito entre Crassus, Pompeu e César.
  2. Sua descendência mitológica era de Vênus e do príncipe troiano Enéas.
  3. Um talento era igual a 60 minas que, por sua vez, eram equivalentes a 100 drachmas. Um drachma era igual a 4,5 – 6 gramas de ouro ou prata.
  4. Amigo e companheiro de cavalaria na época em que César habitava entre os gauleses.
  5. Filósofo e prosador grego que, entre outras obras, escreveu A vida de Julio César.
  6. Cassius, membro do senado, diz isso a Brutus. Mas não se sabe se o boato era verdadeiro.
  7.  O cargo era o único posto da hierarquia política da República que não obedecia aos princípios de colegialidade e responsabilidade, isso é, o ditador não tinha nenhum colega e não era punível perante a lei romana por nenhum dos seus atos. Esse é o termo Romano para ditador, diferente do atual.
  8. Acredita-se que por misericórdia.
  9. Estátua que ele mandou erguer na casa do Senado em homenagem ao seu pai por consideração.
  10. Seu corpo permaneceu ali até as três da tarde e foi o primeiro corpo a receber uma autópsia autorizada e relatada na história.
  11.  Quando inimigo de Roma e perseguido por Pompeu, Brutus não ficou ao seu lado, mas foi perdoado posteriormente e ganhou o cargo de governador da Macedônia do próprio Julio César, cargo que recusou pela amizade e consideração para com seu amigo.
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