A Bíblia e a Mitologia – Parte 1
Por: ABarda
Por Cristiane Penoni
Tanto religião quanto mitologia sempre me interessaram. Há algum tempo, estudando livros sobre mitologia e lendo a Bíblia (sim, não inverti a ordem das coisas), percebi que alguns mitos são muito parecidos com fatos narrados na Bíblia, principalmente no livro da Gênesis. Foi daí que surgiu a idéia desse artigo. Como são muitos fatos que podemos estabelecer uma comparação, vou dividir esse artigo em duas partes. Essa primeira é sobre a criação do universo e sobre a primeira mulher.
A Bíblia diz que a criação do mundo foi assim:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja a luz, e houve luz”. Gn, 1.1-3
Se observarmos a forma que os antigos gregos narravam a criação do mundo, perceberemos muitas semelhanças, como neste trecho retirado de O Livro de Ouro da Mitologia (The age of fable, Thomas Bulfinch):
“A terra, o mar, e o ar estavam todos misturados; assim a terra não era sólida, o mar não era líquido e o ar não era transparente. Deus e a Natureza intervieram finalmente e puseram fim a essa discórdia, separando a terra do mar e o céu de ambos”.
Continuando a leitura de ambos os livros (Gênesis e O Livro de Ouro da Mitologia), vemos que se fala sobre a criação do firmamento, da criação dos mares, das plantas, dos animais e do homem. São tantos pontos em comum que podemos até nos perguntar se os gregos tiveram contato com os hebreus (ou o contrário), e a partir desse encontro uma ou outra civilização tenha dado início aos seus próprios mitos.
A criação da mulher, na mitologia grega, tem duas versões. A primeira (que Bulfinch considera absurda, e é a mais popular) diz que a primeira mulher (Pandora) foi criada como forma de punir os homens pelo roubo do fogo. Ainda segundo essa versão, os deuses a criaram no céu, e cada um deu a ela algo para aperfeiçoá-la. Ela foi dada para Epimeteu, que tinha em sua casa uma caixa onde ficavam guardados itens malignos. Pandora, tomada por grande curiosidade de saber o que aquela caixa continha, abriu a caixa. Várias pragas saíram da caixa; pragas que agiam tanto no corpo quanto no espírito. A única coisa que restou dentro da caixa depois que Pandora conseguiu fechá-la foi a esperança.
A segunda versão é que Pandora era um presente sincero de Zeus para os homens. Como presente de casamento, os deuses lhe deram uma caixa em que cada um havia colocado um bem. Pandora abriu a caixa e todos os bens saíram, ficando apenas a esperança. “Essa versão é, sem dúvida, mais aceitável que a primeira. Realmente, como poderia a esperança, jóia tão preciosa quanto é, ter sido misturada a toda a sorte de males, como na primeira versão? (Bulfinch)”.
A Bíblia diz que a primeira mulher (Eva) foi criada para auxiliar Adão. Isso é descrito no cap. 2 da Gênesis, do versículo 18 ao 25. No mesmo capítulo, nos versículos 16 e 17, porém, Deus dá uma ordem ao homem, sobre uma árvore que se encontra no meio do Éden.
“E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: ‘De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás’”.
No cap. 3, há a narração da queda do homem.
“Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: ‘É assim que Deus disse: ‘Não comereis de toda árvore do jardim? ’’ Respondeu-lhe a mulher: ‘Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: ‘Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais’’. Então, a serpente disse à mulher: ‘É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal’. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.” Gn, 3.1-6
Mais para frente, Deus descobre a transgressão dos humanos e da atitude da cobra. Deus condena a cobra a rastejar; condena a mulher a sofrer as dores do parto e a ser submissa ao homem. Além disso, Deus cria inimizade entre a serpente e a mulher. O homem é condenado a trabalhar para conseguir se alimentar.
Mais uma comparação surge. Em ambas as histórias, a mulher foi criada depois do homem (seja como castigo, seja como presente), e a curiosidade da mulher trouxe à humanidade o sofrimento.
O poeta inglês John Milton utilizou-se da comparação óbvia entre Pandora e Eva no Livro IV, de Paraíso Perdido:
“Mais bela que Pandora a quem os deuses
Cumularam de todos os seus bens
E, ah! bem semelhante desgraça,
Quando ao insensato filho de Jafete
Por Hermes conduzido, a humanidade
Tomou, com sua esplêndida beleza,
E caiu a vingança sobre aquele
Que de Jove furtou o sacro fogo”.
Bom, por enquanto é isso. Mês que vem eu continuo as comparações.