Aquela que não é a favorita……mas que tem o beijo doce!
Por: Alessandro
Por Alessandro Chmiel
BITCH POWER – n. 02
Amigos Xenites – e especialmente às amigas Xenites pelo dia 8 de março -, está na rede a segunda edição da BITCH POWER! Obrigado a todos pelo carinho e aprovação desta coluna que promete muita malvadeza e cafajestagem feminina!
O mês de março fica por conta de uma das maiores vilãs da dramaturgia brasileira. A novela já acabou, a Mary Anne até escreveu um artigo sobre ela, mas eu não poderia deixá-la escapar de um lugar especial na BP. “Esse cara tá se superando! Fala de desenho infantil e depois de novela?!” (é, esse sou eu imaginando a reação de vocês vendo a BP depois de ter visto a capa da RX e espiado a GP). Eu sei, é uma novela, mas eu jamais falaria de uma vilãzinha qualquer por aqui se não fosse uma muito fora do comum.
Para começar, Flora Pereira da Silva apareceu na novela A FAVORITA saindo da cadeia, após dezoito anos presa por um crime que jurava não ter cometido. A loirinha de cachinhos dourados estava pobre, sem lugar para viver, com ninguém para se apoiar. Recomeçando do zero, Flora tentava sem resultados reconquistar o amor do pai, da antiga sogra – mãe de Marcelo, a vítima por quem Flora foi acusada de assassinato e acabou atrás das grades – e da própria filha, Lara (Mariana Ximenes), que até então havia sido criada por sua antiga melhor amiga e atual arquiinimiga, Donatela Fontini (Cláudia Raia); essa, por sua vez, vivia endinheirada e na alta sociedade após a morte do marido, o tal Marcelo. A briga da novela era entre Flora e Donatela, pois uma acusava a outra de ser a bandida. Nem o resto do elenco nem o público sabiam quem estava dizendo a verdade. Não sei quanto a você, mas me pareceu bastante complexo para uma novelinha das oito global.
Trama vai, trama vem, Donatela acaba encurralando Flora em um local solitário, onde Flora confessa com todas as letras que é uma assassina, para surpresa da maioria dos noveleiros de plantão. Muitos acharam bobagem, que o autor não poderia ter ludibriado os telespectadores daquela maneira, mas isso não vem ao caso. Fato a ser discutido aqui é que Flora, a coitadinha que sofria nas garras da perua, era a verdadeira vagabunda.
A característica mais legal de Flora – ok, legal não, pois é perturbadora; digamos a “mais interessante” – é sua conturbação psicológica, onde o egoísmo e a paixão doentia por sua amiga “favorita” a levaram a ser quem é. Um tanto desprovida de auto estima, desde pequena Flora segue os passos de Donatela, prejudicando-a onde pudesse. O fato é que Donatela não é santa, como confirmou a nossa Mary Anne na edição passada. A questão é: se Donatela é tão ruim para ela, por que Flora continuou em seu encalço? Que tipo de vínculoafetivo é esse que passa por cima de tudo que é ético? Até da própria filha, da qual Flora não sente um pingo de afeição?
O que torna Flora uma grande vilã é a desculpa de que todas as suas atitudes são para o bem – só se for o dela próprio. Ela julga ser a vítima de todo um acontecimento envolvendo a família Fontini, e de merecer não só sua vingança como o lugar que Donatela ocupa na mansão da família. Tudo Donatela, certo? É claro, e o final não poderia ser
mais óbvio: encarcerada pela segunda vez, Flora se apresenta a uma novata com o nome de “Donatela”. Ora, se ela não pôde ser Donatela lá fora, que seja ali, presa, para o resto dos seus dias, na fantasia que ela mesma criou.
Flora seguidamente lembrava-me Callisto, tirando o fato da psycho-barbie ser a versão encarnada da maldade de Xena. Donatela poderia pensar ter o rei na barriga uma vez ou outra, mas jamais fez para merecer uma megera como Flora na sua cola, a amiga de infância e antiga colega na dupla sertaneja, agora doida para tirar cada centavo seu e cada conquista que tenha tido em dezoito anos “impune”. Foi válido discutir e refletir sobre até que ponto nossas ações, mesmo naquelas situações bobas da infância, podem ser relevantes a quem nos cerca. O que Tia Call e Florinha têm em comum é a maldade que afeta não somente suas razões de existir – Xena e Donatela – mas todos os entes que as rodeiam, queridos por elas ou não.
Para quem quiser dar uma conferida nos episódios da novela, acessem o blog Telenovelas (http://afavoritabr.blogspot.com/) e confiram, quem sabe, os 3 primeiros capítulos, o episódio 56, e os 3 últimos. Dá para ter uma noção do quanto Flora é macabra com relação aos seus amores. Como diz a música hit de Faísca e Espoleta: “Que amor sem fim!” (Eu, hein? Sertanejo agora é hit de serial killer…).
A BITCH POWER de março fica por aqui. Peço perdão pela demora da postagem, mas espero que tenham gostado mesmo assim. Entrego a coluna no mês de abril para nosso bardo Robson, que falará de outra vilã do mundo vampiresco de Buffy – A Caça Vampiros. Nos vemos em maio, com uma mutante de fibra e de lealdade sempre questionável. Até lá!
“Atira. Aperta esse gatilho, se você tem coragem. Atira.
Você não tem coragem. Não tem. E sabe por quê? Porque você não é uma assassina como eu”.
Flora, no derradeiro episódio 56, diante de Donatela, onde sua máscara de vítima cai perante o público.