Por: Chapo

Camila Conceição

O diferente assusta. Venda nossos olhos e encobre qualquer rastro de razão que nos torne possível sensibilizar algo em comum. 
O medo é o caminho para o ódio, a estrela guia para a ignorância. 
Muitas vezes sangue será derramado, gritos de horror serão ouvidos e tímpanos inocentes serão dilacerados com os ruídos da verdade.
E como derrubar as vendas de nossos olhos e ultrapassar as barreiras do preconceito? Como pode ser possível nos libertar dos nossos valores e premissas? Como não perder a humanidade e saber até onde ela vai?
Xena encontrou, por mais de uma vez, a Horda. Uma tribo violenta que, a todo custo, tentava se apoderar daquilo que necessitavam. Kautaka! Esse era o bem de maior valor. Aquilo pelo qual, no leito de morte, chamavam,pediam, imploravam. 
A guerreira por pouco não teve seu fim nos machados da Horda. Escapou por pouco e os reencontrou em The Price. Ao lado de Gabrielle reorganizou o exército dentro da pequena fortaleza, fez emboscadas e, apesar da desvantagem, fez um bom estrago.
A Evil Xena parecia estar de volta! O olhar, os gestos e até mesmo a voz assustavam. Não era a Xena, nossa heroína redimida, era a outra há muito adormecida.
Olho por olho, dente por dente… fogo por fogo!
Gabrielle não iria abaixar a cabeça para esse tipo de atitude. Ela já estava no caminho do amor mesmo sem perceber de fato. Bastou dois minutos de “diálogo” com um membro da horda para ela descobrir que o Deus da Guerra deles era, na verdade, água.
Quantas pessoas são capazes de fazer o que ela fez? O que é ser um herói afinal?
Talvez lutar em prol daquilo que se acredita. Ou talvez baixar não a cabeça, mas as armas. E com um mínimo de cordialidade tentar ouvir seu semelhante.
Quem sabe compartilhar daquilo que temos de melhor e em abundancia? Kautaka, comida, tecnologia, cultura. Mas só quem sabe… 
Também em Doughter of Pomira eles reaparecem. E por menos favorito que esse episódio seja entre os fãs da série, ele é um dos que trazem uma grande moral. 
Todos determinavam o que era melhor para Pilí, mas todos se esqueceram o que Pilí queria. Cabia a ela decidir seu futuro, seu destino. Independentemente das circunstâncias. Ela possuía uma identidade intrínseca, não selvagem, ignorante ou burra. Diferente, somente diferente.
Ela possuía os valores de uma família, sabia seu lugar em uma sociedade. Apenas as roupas, as cores, os acessórios e o idioma a diferenciavam da maioria (1).

Será que não existe uma Pilí dentro de cada um de nós? Não Somos iguais afinal.
Bastou ela colocar um vestido e pentear as madeixas que magicamente adquiriu humanidade. Der repente ela fazia parte de uma sociedade decente. Ela era gente. Ela era uma semelhante, uma igual.
Mas ela não era ela…
Também em The Abbys nos é apresentada uma nova cara da Horda. Talvez uma outra tribo que fale o mesmo idioma, já que ao final do episódio um membro, ao ver a queda d’água em sua direção, grita por Kautaka.  Agora com hábitos canibais (2) e ainda no caminho de Xena e Gabrielle eles estão extremamente hostis. Não querem saber de conversa, só comida. Possuem roupagem diferente com cabeças e pele de animais para se disfarçarem. 
As tribos canibais existiram nos primórdios espalhados pelo globo e na Europa, se focavam principalmente na França e na Espanha. Grandes povos com cultura e inteligência nata praticavam o canibalismo com fins além do apetite. Também era motivo religioso, de guerra ou para homenagear um parente falecido. Xena retratou bem os canibais os mostrando com dentes lixados até adquirirem uma ponta.

No Brasil temos em destaque as tribos Tupinambás (3) que comiam a carne de seus inimigos acreditando consumir, na verdade, sua sabedoria e astúcia. Embora seja possível também que os navegadores e colonizadores tenham registrado erroneamente essas informações a fim de terem uma justificativa para escravizar esses “animais” (4). 
Seja como for, espero que desde já, nós como Xenites de mentes abertas temos o dever de passar por cima das barreiras da ignorância e olhar além da superfície. Agir como somos e respeitar mesmo aqueles que não nos são semelhantes já que nem sempre haverá uma Gabrielle disposta a se arriscar numa missão suicida somente para dar água à moribundos que não falam seu idioma.

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