As Fases do Herói
Por: Chapo
“Ninguém tem maior amor do que este de alguém dar a própria vida em favor dos seus amigos” João (15,13)
Essa passagem bíblica me remete à tragédia de FIN, quando Xena tem de permanecer morta.
Sei que ela não salvou amigos ali somente e que, principalmente, ela fora movida pelo sentimento de culpa. Mas se analizarmos toda evolução da personagem veremos que o final não poderia ter sido diferente se olharmos para Xena como uma heroína, ao invés de alguém que simplesmente amamos admirar.
Joseph Campebell defende a teoria de que todos os heróis fazem uma jornada cíclica que envolver três fases principais:
- A Partida
- A iniciação
- O retorno
A Partida consiste em o indivíduo deixar o isolamento de sua casa, a rotina, a mesmice do dia a dia. Ele “recebe um chamado” em que um mundo limiar lhe parece irresistível, irrecusável e ,talvez, inevitável. É um impulso que o puxa para fora de tal isolamento existencial.
Xena quando se viu sem saída mediante o ataque do warlord Cortese e uniu membros da cidade em que morava para contra-atacar. Tomou gosto pela guerra e seguiu/descobriu tal caminho.
Gabrielle em situação semelhante viu em Xena tudo aquilo que a puxava para longe do que queriam que ela fosse. Descobriu em Xena o mundo que queria viver.
A iniciação acontece após diversas provações para o bem, para o mal e seus entremeios. Seu corpo, mente e espírito é lapidado pelas navalhas da experiência.
-Poderia citar toda a série como exemplo. Evil Xena, good Xena. Gabrielle inocente, Matando Meridian, deixando Crassus morrer. Xena deixando Talassa morrer. Ambas se arrepedendo e aprendendo a conviver com seus erros, com sua humanidade e suas limitações.
Por fim temos a fase do retorno aonde o status de herói já se faz digno pois o indivíduo transcendeu a dualidade das coisas. Ele passa a entender o sacrificio… o FIN…
Não posso deixar de observar a similaridade com que a análise dessas fases podem encaixar perfeitamente para Xena e também para Gabrielle. Que afinal não tinha de ser uma heróina na série que não leva seu nome.
Penso também que há uma enorme possibilidade de , caso AFIN pedisse o sacrifício de Gabrielle, de que Xena já estivesse pronta ,como estava em Adventures in the sin trade,para compreender como Gabrielle compreendeu a dualidade do sacrifício.
Claro, também é possível ver por outro ângulo: Morrer para Xena foi fácil, foi até um alívio se considerar que Gabrielle sacrificou aquilo que a moveu para fora do isolamento em função de uma causa que para nós aparentemente é injusta e por pessoas que sequer ouvimos falar antes. Acho que a idéia de nos colocar na pele de Gabrielle, que vivia pisando em ovos, foi muito bem alaborada e nos deixou sentindo exatamente o que Gabby sentiu a série inteira. Tivemos que entender, engolir e seguir em frente.
Mas no final tudo isso não se trata de justiça, de certo ou de errado. Mas do que devia ser feito! E somente um herói compreende o sacrifício. Por isso talvez nenhum de nós expectadores chegaremos a compreender e aceitar as cinzas não derramadas ou permanecer morta para salvar almas.
Seja como for, se a tese de Campbell se faz correta então um herói não se forja, ele simplesmente nasce…
Esses últimos 2 anos para mim têm sido uma grande iniciação que eu sei que está longe de abacar, pois sei que ainda estou preso aos erros e acertos da dualidade que existe dentro de mim. Identifiquei-me muito neste artigo. Ótimo trabalho!
Que artigo!
As fases e a série indicando como Gabrielle também passou por estas fases, se considerarmos como disseste que ela não era para ser heroina. Afinal sabemos que ela iria morrer antes da quarta temporada. A culpa que ela sentiu no deserto e Xena não permitiu que assumisse as consequencias…
Não engoli aquela conversa de salvar almas, mas também acredito que a série tinha que parar e foi muito boa a solução, embora eu gostaria de ver uma garota com chakram no Egito… [e ver como evoluiria]
Putz, demais esse artigo, parabéns Chapo.
Concordo plenamente com essa jornada cíclica. Não acho errado que a Xena tenha morrido em AFIN, para salvar aquelas almas todas, afinal quando ela era Evil Xena, ela matou tanta gente por maldade mesmo. A única coisa que eu não suporto em AFIN é o jeito que ela morreu, precisavam cortar a cabeça da nossa heroína? Ela já tava agonizando cheia de flechas!
Enfim, muito legal esse conceito todo.
O cortar a cabeça não tem uma conotação de maldade como se pode imaginar hoje.
Na hora que tu citou as três etapas eu lembrei do livro O MUNDO MÁGICO DE HARRY POTTER, de David Colbert (mas a teoria é do estudioso Campbell como tu mencionou), e são esses três mesmo.
Acho que a última citação dele vale muito pra Xena em AFIN: “O herói conquistou sua liberdade para viver como desejar. Superou os medos que o impediam de viver plenamente”.
Tá certo que a Xena não continuou “vivendo”, mas sentiu-se livre para decidir por qual razão morrer. Talvez ela também tenha percebido que sua missão, muito mais que sua vida, seguiria firme na trajetória da sua amada. Afinal, o amor delas não era só desse mundo, e assim ela desejou descansar, mas sempre acompanhando Gabrielle.
Só senti que esse artigo poderia ser maiorzinho, colocando os detalhes que só tua observação minuciosa capta sempre, guria.
Grande beijo, black power dos meus sonhos 😛
Adorei o artigo. Acho q a Xena não poderia ter outro final, AFIN foi um final perfeito pra mim.