I will survive!
Por: Aryane Mello
Chegamos em Julho! E este já é o terceiro mês da nossa Coluna “I will survive”. Já falamos como será o andamento da coluna e sobre descobrir-se gay/lésbica.
Se você ainda não sabe do que se trata este artigo e tá perdidão aí, aqui vai um resumo básico:
Todo mês abordaremos algum assunto delicado em relação a homossexualidade. Algo que muitas vezes nos faz pensar em desistir da vida, em parar de lutar… Algo que nos faz acreditar que não iremos sobreviver. E essa coluna serve para provar o contrário!
Mês passado a nossa amiga Chapo escreveu um artigo muito interessante: “Sair do Armário está na Moda!”. E não é que está mesmo? Temos vários exemplos de pessoas famosas que arrebentaram a porta do armário com um mega chute e foram corajosos o suficiente para encarar o mundo fora dele. E é disso que “sair do armário” se trata: CORAGEM.
Já da pra saber qual é o tema desse mês, não é? Vamos começar então!
Sair do armário é uma expressão que descreve o anúncio público da orientação sexual ou identidade de género de alguém. Estar fora do armário significa que alguém, cuja orientação é geralmente, lésbica, homossexual, transgénero ou queer, não oculta a sua orientação sexual. (Wikipedia)
Pois é, meu bem, sair do armário quer dizer, vulgarmente, que todo mundo vai saber da sua viadagem ou da sua sapatice. Seus pais, amigos próximos, colegas de trabalho e toda a cidade. Porque é sempre assim, uma vez assumido, assumido para o mundo todo. O fuxico corre igual rastilho de pólvora. Afinal, a sociedade adora um babado. E tem mais babado do que o filho da fulana que apareceu com o namorado em casa? Ou aquela menina esquisita que foi na loja e pediu um sapato tamanho 45?
Agora, deixando as brincadeiras de lado, precisamos deixar explícito o quão difícil é tomar a decisão de se assumir como homossexual. Não é de um dia para outro. Algumas pessoas permanecem no armário para o resto de suas vidas e acham até melhor assim. Afinal, ninguém é obrigado a dar satisfações da vida amorosa pra todo mundo. Ou seja, manter o segredo de ser gay é fácil para alguns, é menos dor de cabeça, menos preocupação com a mãe tendo um possível ataque do coração ou com o pai, que provavelmente expulsará o indivíduo afeminado de casa. Então, desvencilhando-se das coisas que entregam como “gay”, a pessoa consegue sim seguir a vida de forma amena e pode sim, ser feliz.
Porém, há aquelas situações complicadas, onde a pessoa se sente presa dentro de si mesma, mantendo um segredo pesado à sete chaves, como se fosse a coisa mais errada do mundo. E esconder a sua sexualidade pode te render vários problemas, como passar a noite chorando por ter uma vida dúbia, por não conseguir ser si mesmo, por ter que ocultar o fato de estar apaixonado e ter um namorado lindo e loiro que te trata como um príncipe…
Não é fácil, as vezes, a família nem imagina que o filho ou a filha são, de fato, homossexuais. Existem apenas desconfianças ou as vezes, nem isso. Então a surpresa é maior, mais assustadora. E isso aflinge absurdamente os moradores do armário: a tristeza que causará no outro.
Sim, o problema maior não é com o preconceito, com aquela tia fofoqueira que vai ficar de mexerico com a vizinha sobre sua vida sexual. Isso se passa por cima, absorve-se, supera-se… O grande e nebuloso problema é a reação que as pessoas em que amamos irão ter ao ouvirem “Eu sou gay”.
“Sempre soube que era gay, mas só fui me assumir mesmo com 15 anos, quando me apaixonei por um hétero e fiquei tão mal que tive que conversar com a minha família. No começo não foi muito fácil, pois não recebi apoio de praticamente nenhum deles, mas alguns meses depois tudo foi mudando e começaram a entender melhor como eu era. Namorei algumas pessoas a partir dos 17 anos e todos íam para minha casa e conheciam a minha família. Porém nenhum deles era ainda a pessoa certa e depois de algum tempo o relacionamento chegava ao fim. Enquanto o tempo passava eu ía me assumindo gradualmente na escola, no trabalho, no bairro, etc., até conseguir ficar completamente livre aos 20 anos, quando então me tornei 100% assumido para qualquer pessoa. Aos 25 anos conheci meu companheiro com quem vivo até hoje. Estamos pensando em nos casar e até montar uma família. Hoje recebemos o apoio dos nossos parentes e amigos e nosso relacionamento é completamente transparente. Sei que nem sempre foi tudo tão fácil assim, mas só depois que eu parei de me esconder e interpretar para as outras pessoas é que encontrei a felicidade. – Marcelo
Se você está dentro do armário há séculos, ou prefere ficar assim, isso quer dizer que existe em você uma grande preocupação para com aqueles que são importantes na sua vida. Não é covardia ou vergonha, muito pelo contrário, há em você uma deficiência de egoísmo, o que te torna uma pessoa digna de respeito. Então, antes de dizer “Ai, fulano não sai do armário porque não tem coragem, se acomodou”, pense que pra essa pessoa, as coisas não são tão simples assim e pode ter muita coisa pesando para que ela permaneça em segredo.
“Muitas pessoas me disseram que o mundo não estaria disposto a aceitar a minha verdade. Por todos os conselhos que eu recebi dessas pessoas, decidi seguir em frente com a minha vida e não compartilhar a minha verdade. Fui seduzido pelo medo e insegurança, eu me auto-sabotei” – Ricky Martin
Agora, nós sabemos muito bem que é difícil passar por toda a fase de descoberta e permanecer em silêncio sobre a sexualidade. Sempre temos que contar para terceiros, pra aliviar um pouco do tormento acumulado em nossa mente. É nessa hora que os boatos começam a aparecem, a pessoa passa a ser alvo de brincadeiras nada agradáveis que podem marcar para sempre. Desta forma, é sempre bom tomar cuidado pra quem você conta e de que maneira conta. Pois as pessoas podem pensar que “ser gay” é apenas uma fase e que logo passará quando você conhecer meninas bonitas. Não confie em todo mundo logo de primeira. Se quer desabafar, escolha alguém de confiança. Depois, quando estiver certo de que realmente quer se assumir, poderá aos poucos compartilhar seus sentimentos com pessoas mais próximas, até chegar aos seus pais, que são as pessoas mais importantes da história.
A reação deles pode ser boa ou ruim. Eles podem dizer que é uma fase, como foi dito anteriormente; te colocar em uma terapia, provavelmente pensando em uma cura; cortar suas amizades que, para eles, te levam para o “mau caminho”; proibir o uso da internet; não deixa-lo sair de casa com facilidade, entre outras coisas chatas.
Entretanto, eu aprendi com experiência própria, que toda essa situação que parece sem fim, nada mais é do que um processo de aceitação, que vai da descoberta assustadora ao possível respeito à sexualidade do filho. Claro que nem todos os casos seguem essa regra, alguns pais aceitam logo na primeira conversa, na revelação, outros demoram anos, se distanciam dos filhos e alguns nunca aceitarão. Contudo, eu nunca vi um pai ou mãe que deixou de falar com seu filho ou filha por causa da homossexualidade. Eles podem se distanciar, podem ficar um bom tempo sem se comunicar, mas algum dia, o amor fala mais alto e eles sempre ligam, ou decidem visitar o filho no natal… Essa é a pior das hipóteses. E nem é tão ruim, não acham?
Pode parecer o fim do mundo se assumir, mas na realidade, pode ser a sua libertação! Nada como poder ser si mesmo, todo o tempo e com aqueles que amam.
Mês que vem falaremos do tão famoso Bullying, mas com foco na homossexualidade. Muitos garotos e garotas se suicidam depois de sofrer violência física ou moral na escola. E isso é um assunto importantíssimo a retratar, principalmente na comunidade Xenite.
Até Agosto!
É muito interessante ver celebridades assumirem a sua sexualidade. É uma forma de fazer com que a sociedade se sinta um pouco mais segura, e que ainda há salvação para quem tem medo de se assumir.
Definitivamente, é um grande passo na evolução da sociedade. Pessoas como o Ricky Martin devem ser tomadas como influência positiva pra esse tipo e coisa!
Parabéns pelo artigo.
Acho que o mais fantástico foi o fato de ter sido colocado que, enquanto sair do armário é um ato de coragem, ficar no armário não é um ato de covardia. Principalmente quando a pessoa ainda mora com os pais, ou, pelo menos, depende do dinheiro deles, sair do armário pode ser muito arriscado: a pessoa pode ser chutada para fora de casa, ou perder a ajuda financeira… E mesmo que isso não aconteça, mesmo que os pais aceitem @ filh@ gay em casa, existe a possibilidade de tudo ficar… frio na convivência familiar. É por isso que eu acho que a pessoa só deve sair do armário depois que tiver muita certeza de que não vai se sair mal…
Parabéns pela coluna e pelos excelentes artigos (desse e dos meses anteriores)
Lembro das noites em que eu passava no MSN, quando o Orkut bombava lá em 2006, e eu tinha o Doug adicionado nos meus contatos. A galera era ainda tão “verde” nessa coisa de gaydar, de reconhecer os de “sua espécie”, que eu jurava que o Doug era hétero 😀
Lembro que muitos papos meus com ele sobre relacionamentos amorosos foram superficiais, e eu nem sabia o motivo disso. Daí teve um dia que eu me encantei por um rapaz aqui da cidade, e foi aí que eu me descobri gay, porque até então eu não me interessava nem por mulheres, hehe, embora eu ficasse com algumas meninas.
Mesmo esse menino aqui da minha cidade nem notando que eu existia, eu resolvi me assumir pros meus amigos e pra minha mãe, porque caso algum dia eu tivesse a sorte de ficar com ele, eu já teria o campo aberto pra viver o que eu sentia no meu peito. Deu que não deu em nada, porque o David é hetero, e, por e-mail em resposta à minha carta de admirador anônimo que mandei pra ele, se desculpou e disse que não queria me magoar, mas que eu não era a praia dele. Engraçado como as pessoas às vezes não nos dão tudo o que queremos, mas deixam com a gente tudo aquilo que mais precisamos.
Aí quando me assumi pra mim mesmo, fui falar com o Doug, e enrolei, enrolei, enrolei tanto que ele me disse, antes de eu contar: “Robson, se você vai me dizer que é gay, diga logo, porque eu estou começando a achar que você é bandido!”
E o Doug me dizia, em conselho aos meus desabafos angustiados de paixonite pelo David: “Vá comendo pelas beiradas!” Sempre vou lembrar daqueles papos…
Minha mãe aceitou numa boa quando me assumi. Ela já desconfiava, visto que meu melhor amigo desde a pré-escola é bem pintoso, e minha melhor amiga sempre foi meio caminhoneira. Ela falou: “Meu filho, se algum dia tu tivesse me dado algum motivo pra eu não sentir orgulho de você, eu teria te dito na mesma hora. E o fato de você estar me contando isso agora nunca vai se tornar motivo de menos orgulho.” – algo assim, ela me disse.
Hoje em dia eu conquistei o meu espaço, depois de anos roendo as unhas por tanta gente que não valeu NENHUMA lágrima minha, em especial alguns enrustidos que viviam de fachada que, embora eu respeite homossexuais que vivem por opção própria no anonimato, me usaram para seus propósitos terapêuticos de superação de dores passadas, como se eu fosse uma bóia ou uma muleta. Enfim, meros idiotas, nada mais.
Ando de mãos dadas com o homem que eu amo, e já me acostumei a não dar bola pros olhares de ódio e nojo das pessoas, embora eu às vezes perceba que a maioria dos olhares é de surpresa e não de violência, porque muita gente acha que o Fer e eu ou devemos ser loucos ou muito corajosos, porque ninguém mais na minha cidade assume ao público um relacionamento homo.
Amei o artigo, Ary.
só deus sabe como é dificil ser gay nesse mundo bagunçado
me assumi qndo começei a namorar minha atual namorada
pq estava apaixonada loucamente, pq era quem eu era, mas PRINCIPALMENTE pq eu etava MUITO FELIZ.
E acho q esconder minha felicidade, engolir ela pq alguns olharão com desprezo, não seria justo comigo nem com ela.
Então botei pra fora dei um belo foda-se pro mundo.
Show de artigo. Gostinho de quero ler mais!!!!
ah, fazendo um adendo:
“Muitas pessoas me disseram que o mundo não estaria disposto a aceitar a minha verdade. Por todos os conselhos que eu recebi dessas pessoas, decidi seguir em frente com a minha vida e não compartilhar a minha verdade. Fui seduzido pelo medo e insegurança, eu me auto-sabotei”
isso quem falou pra ele foi a Madonna, e quem não seguiria o conselho dela em pleno começo de carreira, neh?
OMG, foi a Madonna??? Eu preciso checar, mas no site onde eu “encontrei”, dizia que a frase era dele. Suponho que o site esteja errado. =O Que droga, odeio essas coisas fail… ><
Ele fala isso naquela biografia dele q saiu assim q ele saiu do armário. Tb eve uma entrevista q ele mencionou isso.
Deve ter sido no ano de 99/00 pq lembro da Madonna estar com cabelinho do clipe Frozen qndo entregou o Grammy pra ele e chamou ele de gatinho.
Lá nos bastidores ele pediu o conselho se deveria ou não se assumir, visto q ele era-na época- considerado um Elvis Latino q bombava com Vida Loca e tals. Aí Madonna falou pra ele esperar a carreira dele sair de “um hit só” e se tornar mais sólida pra que ele tivesse o conforto -como tem hoje- de sair do armário sem terminar atras de um balcão vendendo rosquinhas (q aliás foi uma das profissões da madonna e por isso a referencia).
PS: não sou fã de RM
Orgulho de você com esses artigos!
Utilidade pública de uma maneira prazerosa de ler!
E se vai falar de bullying no próximo, fica a dica…fala algo a respeito do Trevor Project ou dos vídeos do “It gets better”.
Falarei!
Eu quero parabenizar você, Ary. Seus artigos estão bem divertidos. Adorei quando disse: “Pois é, meu bem, sair do armário quer dizer, vulgarmente, que todo mundo vai saber da sua viadagem ou da sua sapatice.” Recentemente, eu saí do armário e não fui por espontânea vontade, acabaram descobrindo. Já haviam muitas suspeitas, mas eu já sofria tanta pressão só com as suspeitas que preferia me esconder. Sempre foi ruim, mas antes eu não tinha tantos problemas com minha mãe, agora infelizmente, para mim parece pior. Ainda me sinto presa, talvez seja porque ainda dependo mto da minha mãe. As cobranças são maiores, há mtas discussões e piadinhas, no fundo, eu a entendo, ela quer me proteger, mas às vezes, sofremos mais preconceito na própria casa. Espero que um dia e espero que não demore, eu possa me sentir livre, como achava que iria acontecer. Foi um dos motivos que me fez sumir da net, do fandom, de tudo. Passei dias difícieis e sempre soube que um dia o inferno começaria. Tive que passar por todas aquelas coisas ruins que muitos gays já passaram e sofri tanto. Agora as coisas estão mais calmas, mas agora que me sinto mais no armário ainda.
Realmente sair do armário é uma decisão difícil de ser tomada,mais se tem uma coisa que aprendi é que não podemos agradar á todos.O preconceito esta aí fora ,mais do que adianta viver uma mentira,negar sua opção,na tentativa de não magoar a família,e viver na maior frustação por não poder ser quem é,seguir suas vontades e desejos?.A vida é uma só, e o pior erro é querer agradar á todos.