Minha Mãe gosta de Mulheres
Por: Aryane Mello
Provavelmente esse deve ter sido um dos pensamentos de Eve, logo quando conheceu Xena, no episódio Livia, ainda com a personalidade da Vadia de Roma. Já Solan, nem teve a oportunidade de cogitar a ideia, pois passou pouquíssimo tempo ao lado de Gabrielle e Xena, tampouco pode experimentar a convivência cheia de aventuras que o futuro lhe aguardava.
É certo que Livia/Eve sabia. Ela teve algumas falas que correspondiam a um subentendimento sobre a relação mais do que amigável entre a mãe e a Barda Guerreira. Isso é óbvio, pois certamente corriam rumores sobre a Guerreira que tomava banhos de tina por aí com uma loirinha vinda de Potédia. Todos, no seriado, de alguma forma, sabiam o que rolava aí.
Com isso, podemos acrditar que Eve entendia o relacionamento das duas e claramente o respeitava. Até porque, Gabrielle a criou como uma segunda mãe; um pai, até, como a própria Xena diz na quinta temporada, recusando os serviços paternais de Ares. Eve não foi criada pelas duas depois do congelamento, mas com certeza leu os pergaminhos de Gabrielle e ouviu nos mínimos detalhes como foi seu dia-a-dia como bebê, ao lado das duas.
Isso nos faz imaginar como Solan reagiria diante de uma situação dessas… Ele ainda era criança e provavelmente isso não passou pela cabeça do menino, mas talvez, quando crescesse, alguns boatos alcançariam seus pensamentos. Será que ele seria um pouco preconceituoso? Será que regiria de qual forma diante de uma situação nada convencional? Com certeza Xena daria uns petelecos no garoto caso ele tivesse algum tipo de comportamento contrário ao amor das duas. Mas eu, esta pobre autora que vos escreve, acredito que essa posição negativa de Solan seria demasiadamente inoportuna. Por um grande motivo: ele foi criado bem por aquele Centauro, era um menino de bom coração, sem maldade alguma e mesmo não sabendo que era filho de Xena, ele já dava pistas de que ambos seriam bons amigos, caso a Hope não cruzasse seu caminho.
Agora sim, eu lhe pergunto, bondoso leitos: E se fosse com você? E se sua mãe confessasse ser lésbica, homossexual ou até mesmo bissexual (atraída por ambos os sexos)?? Como você reagiria? Tente responder, independente da sua condição sexual… Seja você travesti, trans, homo, bi, indeciso… Você correria e a abraçaria fortemente, dizendo que nada daquilo impediria de continuar amando a e respeitando a? Ou algum tipo de sensação de nojo, asco ocorreria a sua mente? Talvez por ela ser bem mais velha que você… Talvez por nós, filhos, imaginarmos que nossos pais não possuem vida sexual, não se masturbam, não sentem prazer, etc…
Nesse exato contexto, existe um filme Espanhol maravilhoso, que leva consigo o nome desse artigo: Minha Mãe Gosta de Mulheres. Sim, existe já essa abordagem no cinema e até na televisão! Esses dias, na minissérie “As Brasileiras”, com a Sandy, pudemos nos dar ao luxo de presenciar uma mãe de família, com filhos crescidos, convidando os filhos para um almoço de domingo com a finalidade de apresentar sua mais nova namorada… E futura esposa!
Creio eu que são nesses programas inesperados que os gays ganham pontos com a sociedade e não são mais vistos como doentes, sujos e pervertidos.
Já no filme, nos encaramos com uma situação complicada, pois a filha do meio – a qual interpreta lindamente – não consegue lidar bem com essa situação da mãe. É como se ela, de mau com a vida, devido ao seu martírio na vida pessoal e no emprego, jogasse em cima da mãe todas as suas insatisfações e a tratasse mal por algo que nem foi sua própria escolha. Porque nós todos já sabemos (assim eu espero) que homossexualidade não é escolha.
É mês das mães, devemos sempre repensar sobre nossas mulheres que nos botaram no mundo com mais carinho, não só nesse dia, mas sempre. Principalmente se elas não estão mais entre nós, aqui, nessa dimensão. Devemos parar de colocar essa visão distorcida de que mães são feitas para viverem a vida dos filhos, trabalhar para eles, darem comida, cuidar deles quando estão doentes e depois, se tiverem sorte, irem para algum asilo.
Não! Nossas mães tem vida! Nós somos sim, parte importante da vida delas, mas ela não precisa interromper a vida, porque você quer assim.
Digo por experiência própria, sempre senti um ciúme gigantesco da minha mãe e isso me fazia sofrer mais do que ela, que era o alvo disso tudo. Agora, penso com mais clareza. Da mesma forma que sempre quis a aceitação dela para com a minha sexualidade, penso que devo a ela esse pensamento positivo de que sim, ela pode viver com um namorado(a) e ser feliz como mãe, como filha, como tia… e também, como mulher.
Vamos seguir o exemplo de Eve, que até agradeceu a Gabrielle por estar na vida da mãe, por fazê-la feliz de uma forma que ninguém mais conseguiu e jamais conseguirá.
Feliz dia das Mães!
Eve sabia que Gabby lutara por ela tambem,desde o iniçio.Foi bacana ter reconhecido provando como é bom ter um coraçao voltado para o amor.
Muito interessante o artigo.
Adorei os quadrinhos, combinaram com a expressão facial das personagens! hahahaha
Uau, Ary, interessantíssimo esse teu artigo!
Muito bem escrito, nos faz refletir a cada parágrafo.
Nunca havia parado pra pensar no que Eve e Solan achavam da relação de X&G. Da próxima vez que assistir aos episódios, certamente terei outras perspectivas graças ao teu artigo.
Parabéns!
Nossa, algo realmente que dá pra pensar, embora eu tenha certeza que aceitaria numa boa. Infelizmente perdi esse episódio de As Brasileiras, mas já ouvi falar desse filme, espero logo conseguir assistir.
Mas muito boa a matéria!
Falando como Camila: Minha mãe passou por 3 casamentos. Nenhum deles foi fácil. Nem mesmo o com meu pai. E só o fato dela ter chegado com outro cara de mala e cuia na mão pra morar aqui em casa abalou profundamente toda nossa relação. Precisei amadurecer MUITO pra conseguir respeitar as decisões q ela tomava. Pra aprender que, embora eu nem sempre concordasse, a intenção era sempre trazer a felicidade pra gente(eu e meu irmão), bem como a felicidade pra ela.
A gente cresce com a mamãe ali sempre fazendo a escudeira e topando qualquer parada por nós e acabamos por nos acomodar de que ela viva exclusivamente pra nós. E -agora respondendo a sua materia- se ela se assumisse homossexual, tivesse namorada e tal. Eu jamais a podaria, como até hoje não fiz, mas não tem como negar que, alem de ser inusitado e incomum, seria uma batalha das mais épicas contra o preconceito das outras pessoas (especialmente pelo fato dela ser evangélica) e do meu proprio preconceito.
Porque eu não sei se as pessoas param pra pensar nessas coisas, mas não é pq somos gays que automaticamente vamos ser super a favor de filhos gays. Não pq tem nojo ou rancor nem nada, mas pq sabemos como é dificilimo viver sendo quem é e não queremos esse tipo de ferida nas pessoas q amamos, seja filho ou seja mãe.
ah! ótima matéria by the way!
Ótima matéria mesmo. Eu ja tinha lido mas não tinha pensado em comentar. Não creio que seria problema nem como filha, nem como mãe. Sua matéria trouxe um aspecto que eu não tinha pensado… que seria necessário X&G esconder o que nunca demonstraram. Não imagino Eve com preconceitos, até por que não se cresce na nobreza romana ser ver e pelo que sabemos participar de algum tipo de liberalidade. Há uma grande diferença entre liberdade e liberalidade e penso que Eve não teria problemas com o que Livia já vivenciou [fora da matança e maldade]. Infelizmente parece que os seguidores de Eli neste amor que manifestavam desviavam-se do amor carnal vivendo-o apenas e exclusivamente no campo fraternal. Como se a pureza do espírito declinasse dos prazeres e não visse no corpo uma manifestação do amor. Interessante que todas as demais necessidades do Homem eram tidas como naturais a do alimento, sede, frio etc por que repentinamente o sexo virou tabu?? não se sabe talvez um controle maior da natalidade e da dedicação à “mensagem” uma vez que crianças requerem trabalho. Parabéns pelo artigo, mesmo atrazadississimo.