Xena, algo como o amor…
Por: Colaboradores
Laraíne Ramos
Às vezes me pego pensando nas similaridades que há entre ser fã de algo e um amor verdadeiro. Para os xenites isso devia ser ainda mais próximo, uma vez que a série fala exatamente disso, de quanto amor devemos dispensar pelo que acreditamos e prezamos.
A cada episódio da série vemos uma Xena que busca remendar seu passado sabendo que isso a tornará não uma pessoa melhor, mas alguém mais próximo do seu verdadeiro eu. O que ela procura incansavelmente talvez nem seja o bem supremo total, pois creio que ela estaria a par do quanto seria difícil ter esse poder em suas mãos. Acredito que o que ela procura é a suprema integração com o que é, o que sempre será não importa o que passe.
Talvez seja exatamente isso que procuramos quando olhamos os episódios, essa noção de que não importa os erros que se tenha cometido, nunca nada estará perdido enquanto acreditarmos que o melhor ainda pode ser feito.
Eu costumava pensar que Xena havia concordado muito rápido quando Hércules lhe disse que mudasse. Por que? Não fazia sentido se ela era uma temida conquistadora de nações. Mas a verdade era que ela sempre soube que aquele não era o seu caminho e, por mais que lutasse em escondê-lo, quando enxergou Gabrielle e se dispôs a salvá-la, percebeu que não podia lutar contra sua natureza e que a escolha de lutar com as armas certas era sua e de mais ninguém. Suas crueldades e a sombra em seu coração eram fruto da escolha entre se tornar uma garotinha assustada e fazer algo por si mesma. Por mais que tenha se entregue a um drama de controle forte no início, onde subjugava os outros através da força, no fundo era como o esconderijo que muitas vezes usamos quando queremos, mas não temos a devida coragem de nos livrar de alguma situação incômoda.
É preciso ter coragem para aceitar o caminho mais difícil e longo. Xena poderia nunca ter se tornado uma conquistadora e ainda assim ter conhecido Gabrielle, mas isso a tornaria a Xena que conhecemos e amamos? Não. Por mais erradas que fossem suas escolhas, e por mais difícil que fosse ter de se render quando se poderia chutar tudo, essas escolhas a moldaram como a guerreira que admiramos hoje e que despertou algo importante em todos nós.
Não é por acaso que nos sentamos na frente da televisão e imploramos para que a Record coloque XENA novamente na programação. Não é por acaso que baixamos vídeos, fazemos wallpapers, fanfics ou artigos. Somos assim, pois era isso que havia dentro de nós e que XWP despertou, um lado que muitas pessoas não entendem, mas que nos torna fortes como o chakram que rompe barreiras e derrota os ímpios.
Mas o que nos atrai em XENA? Pancadaria? Uma loira e uma morena bonitas? O subtexto? Pensem e verão que não é nada disso. Xena nos atrai porque nos completa no sentido mais amplo que conseguimos entender. Despertou algo que havia em nosso íntimo, que talvez estivesse escondido ou até mesmo suprimido por um mundo onde não há mais espaço para a bondade em detrimento da ambição e avidez. Ela nos conquistou pelo amor. O amor por tudo que é verdadeiro em si mesmo e nos outros, bom ou mau. E não falo apenas do amor que ela sente por Gabrielle, mas o amor pela verdade, pelo que seria melhor, não pra ela, mas em termo de gerações, de forma que pudesse mostrar para as outras pessoas tudo o que sofreu para aprender.
Quantas vezes pensamos apenas em nós, e na facilidade em aceitar as coisas ou esperar que outro se rebele em nosso lugar, quando a possibilidade de mudar está em nossas mãos? Quantas vezes optamos por ficar no conforto de um posto de comando, quando podemos salvar a vida de uma camponesa que nos ensinaria mais em uma simples expressão do que aprenderíamos com o mestre de armas mais astuto?
XENA é muito mais que uma série, muito mais que LL ou ROC, milhares de vezes mais que o subtexto ou a falta dele. XENA somos nós e o que podemos fazer ou não de nossas vidas. XWP representa a nossa opção entre ser mais um escravo com medo de seu senhor ou um guerreiro digno de viver num mundo onde apesar de nada ser perfeito, com certeza existe em algum lugar uma “camponesa” esperando para ser salva e iluminar a nossa verdadeira busca.