Um Demônio com Rosto de Anjo e Corpo de Deusa
Por: Rodrigo Silva
BITCH POWER – n. 25
“Pula titio. Vem sentir o que tem debaixo do travesseiro”
Por Rodrigo A. Silva
E-mail: [email protected]
Revisado por Alessandro Chmiel
Dedicado a todos os homens e mulheres que, na infância, sofreram qualquer tipo de abuso. Este artigo não visa incentivar a vingança, mas sim deixar bem claro que a pedofilia, ou qualquer tipo de abuso sofrido na infância, deixa marcas que nem mesmo o tempo pode apagar.
Para quem nunca ouviu falar de Passione, trata-se de uma novela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo de televisão e escrita por Silvio de Abreu. A novela basicamente trata dos problemas e conflitos vividos por uma família rica de São Paulo.
A novela Passione exibiu seu último capítulo no dia 14 de janeiro deste ano, mas as marcas deixadas pela trama e pela vilã estão longe de acabar.
Ao longo da trama, a vilã Clara Medeiros (Mariana Ximenes) aprontou de tudo com todos. Traiu, matou, roubou, se prostituiu, enganou e mentiu para todos por várias vezes até o fim. Mas no caso desta bitch, sou obrigado a bancar o advogado do diabo e peço aos leitores que não a condenem antes de conhecer toda a sua história.
Acredito que todos os Xenites deste mundo já estejam bastante familiarizados com a história da nossa Bitch Power Master Callisto (titia Call para os íntimos), aquela que na juventude viu uma Xena demoníaca invadir sua vila e matar toda a sua família. Como consequência deste trauma, titia Call se transformou em uma piriguete psicótica. Da mesma maneira, nossa bitch Clara também teve sua cota de perdas e traumas em sua infância.
Clara não teve uma Xena em sua vida. Infelizmente, o monstro responsável pela destruição da alma de Clara não veio de fora, mas sim de dentro de sua própria casa, do seio de sua família. Para mim que tive uma avó amorosa, é muito difícil acreditar que uma avó possa ser capaz de fazer o que a avó da Clara (Daisy Lucidi) fez com ela.
A mãe da Clara é um personagem sem nome na trama, uma sombra esquecida pelo tempo. Essa sombra desapareceu da vida de Clara sem maiores explicações, deixando Clara e sua irmãzinha Kelly (Carol Macedo) em um orfanato. A avó materna de Clara então fez o que qualquer boa avó faria, foi até o orfanato e abrigou as netas em sua própria casa. Infelizmente, o aparente ato de bondade da velha escondia um propósito cruel e nojento.
Na época em que fora adotada pela avó, Clara estava com apenas nove anos de idade. Ainda era uma criança pura e inocente, sem nenhuma maldade no coração. A avó trabalhava como empregada doméstica em uma mansão e um dos filhos de seus patrões era o então jovem Saulo (Werner Schünemann), que devia ter por volta dos trinta anos de idade. Em troca de dinheiro, a avó levava a própria neta para a mansão para ser molestada sexualmente por Saulo.
Pelo que se sabe da história de Clara, a avó (apelidada merecidamente de Velha Porca) não se limitou a negociar o corpo da menina apenas com o Saulo, mas sim com muitos outros homens e velhos nojentos, sem escrúpulos e sem alma. Não é a toa que a garota cresceu e se transformou em uma Bitch capaz de qualquer coisa para vencer na vida.
Clara cresceu e se transformou em uma bela mulher fatal e trambiqueira profissional. Com seu rosto de anjo e um corpo que deixaria Afrodite roxa de inveja, Clara era capaz de se infiltrar em qualquer lugar e enganar qualquer pessoa.
Sabendo disso, Saulo (o mesmo que abusou dela na infância) contratou Clara para que esta se passasse por cuidadora de idosos e envenenasse lentamente o próprio pai, pois assim Saulo poderia tomar posse dos negócios da família.
Clara cumpriu muito bem o seu papel de assassina. Envenenou o velho lentamente no maior estilo Kill Bill, sem que ninguém pudesse provar nada contra ela.
Em sua missão, Clara descobriu que o velho que ela matara havia deixado uma fortuna para o filho ilegítimo de sua esposa, filho este que já devia ter mais de cinquenta anos e que morava desde sempre na Itália. De posse desta preciosa informação, Clara deixou a mansão onde trabalhava fingindo ser enfermeira e, juntamente com seu amante Fred (Reinaldo Gianecchini), foi para a Itália disposta a seduzir e enganar o italiano para ficar com tudo o que era dele.
A princípio, ambos foram bem sucedidos. Fred voltou para o Brasil com uma procuração que lhe dava plenos poderes sobre a herança de Totó – esse é o apelido do italiano (Tony Ramos) –, e Clara conseguiu seduzir o italiano e se casar com ele.
Logo após se casar, Clara falsifica a assinatura de Totó em um falso testamento que deixaria toda a herança do italiano para ela em caso de morte prematura. Infelizmente para Totó, Clara desejava que ele morresse mais prematuramente do que o esperado.
Por duas vezes, Clara tentou assassinar Totó. Na primeira vez ela provocou um incêndio no celeiro do sítio onde o casal vivia e gritou por socorro. Totó entrou no celeiro na esperança de salvar a amada, mas quase morreu sufocado na tentativa. Na segunda vez, já no Brasil, Clara forja um assalto e atira duas vezes no marido alegando que estava tentando acertar o bandido. Desta vez Clara se deu mal, pois Totó, que já desconfiava das intenções da esposa, forjou a própria morte e conseguiu enganar a vigarista.
Enganada por um investigador da polícia, Clara confessa ter tentado matar Totó e é desmascarada diante de toda a família do marido italiano.
Após ser desmascarada, Clara é finalmente presa, mas foge com a ajuda da irmã e, seguindo o exemplo de Totó, consegue forjar a própria morte e fugir para as ilhas do Pacífico, sem que ninguém jamais desconfiasse de nada.
Todos com quem eu conversei após a exibição do último capítulo não gostaram do fato da Clara ter escapado da punição da justiça. Eu, porém, amei o final da trama, especialmente após a revelação de que a Clara era a assassina de Saulo.
Peço aos leitores que não levem a mal o meu comentário. Como eu disse, o intuito do artigo não é incentivar a vingança. Mas o Saulo mereceu a morte que teve.
Durante um encontro informal dos dois em um motel, Saulo falava com prazer e satisfação das coisas imundas que ele obrigava Clara a fazer quando ela ainda era uma criança. Lembrou que, na época, a Clara deveria chamá-lo de titio, pois foi assim que a avó havia lhe ensinado a se comportar com o patrão.
Clara entrou no jogo de Saulo, e enquanto este estava no banheiro, ela tirou uma faca da bolsa e enfiou dentro de dois travesseiros. Quando Saulo voltou para o quarto, Clara estava em uma posição bem sensual na cama, com os travesseiros entre as pernas. Clara lembrou a Saulo que ele adorava que ela pulasse em cima dele e sugeriu que ele pulasse em cima dela desta vez para mudar um pouco a brincadeira.
Saulo adorou a ideia enquanto Clara falava com voz infantil:
– Pula titio. Vem sentir o que tem debaixo do travesseiro.
Saulo não pensou duas vezes e, louco de prazer, pulou em direção ao travesseiro, caindo diretamente sobre a faca que estava escondida ali. Depois que Saulo sentiu a faca penetrando seu corpo nu, Clara ainda pressionou mais o instrumento, com gosto, dizendo:
– Morra, seu pedófilo maldito!
Peço perdão aos leitores Xenites pelo conteúdo pesado deste artigo. Mais uma vez, digo que não é a minha intenção incentivar a vingança, mas espero que esta trama televisiva tenha servido como exemplo e que os pedófilos que tenham acompanhado a história pensem duas vezes antes de aliciar uma criança, sob risco de terem o mesmo fim do pedófilo Saulo Gouveia, descobrindo de maneira trágica o que realmente se oculta embaixo do travesseiro.
Oi Ale. Foi legal saber desta novela por ti e a forma como contaste tudo. Eu acredito que não justifica mas explica a atitude de Clara e a vingança é tema recorrente em muitas histórias (ver Conde de Monte Cristo). Em XWP temos ela muito presente em Xena contra o mundo, contra Cesar, Callisto contra Xena, Toris contra Corteze, Talasa contra Xena e por aí vai… Muito bom artigo Alê embora eu não goste de ver TV. Gostei mesmo,