Curso de estrutura de roteiro capítulo 3

Por:

Roteiro Para Cinema

SSenaT

Aula 3 – Criação

A ideia

Muitas vezes, quando tentamos começar a escrever uma história, caímos na armadilha do papel em branco. Recolhemo-nos em um lugar tranquilo, colocamos uma musiquinha inspiradora de fundo, uns biscoitinhos e um copão de refrí à mão… Mas, quando olhamos para o papel ou para a tela do computador… Nada sai! O tempo passa e… Nada! E, quando conseguimos escrever umas poucas linhas logo as apagamos, pois tudo estava muito ruim. Em desespero, tentamos escrever aleatoriamente qualquer coisa e até mesmo tentamos psicografar algo, mas esta técnica não é para qualquer um. Então colocamos a culpa da não cooperação das musas pela absoluta falta de inspiração divina ou começamos a nos sentir um lixo, concluindo que definitivamente não nascemos para esta coisa de escrever.

 

Até mesmo a barda Gabrielle já caiu nesta armadilha.

 

Isso ocorre quando caímos no erro de tentar começar o processo da escrita sem antes ter efetuado alguns procedimentos necessários. Começar a escrever a primeira página não é o primeiro passo, em verdade é um dos últimos dentro do processo criativo.

O primeiro passo é conceber a ideia da história na nossa mente. Inicialmente não é necessário escrever muito, no máximo fazer anotações para não perdermos nenhum detalhe para o maldito general esquecimento.

O segundo passo é conhecer bem todos os elementos que irão ser trabalhados na história. Portanto, temos antes que saber quem são os personagens; onde estão, estiveram e deverão estar a cada momento da trama. Como é possível descrever os ambientes se não conhecemos o universo dos personagens? Se não sabemos o que os personagens pensam e se não conhecemos os seus objetivos, como é possível imaginar diálogos entre eles? E se ainda não estabelecemos quando ocorrerão os fatos que interferirão na vida dos personagens, como iremos dispô-los na trama se ainda não temos a linha de tempo da história?

Ou seja, é muito difícil começar a contar uma história com uma página de diálogos sendo travada por desconhecidos em um lugar ignorado em uma história que nem ao menos sabemos como será o final dela. É por isso que tentar começar a escrever uma história sem antes tê-la pelo menos parcialmente na mente, geralmente é um gesto quase que inútil.

Capturando idéias

O gênio, em definitivo, não é mais do que aquele que possui a faculdade de perceber as coisas de maneira fora do habitual, ou de se adiantar aos tempos”. (Willian James, psicólogo americano do século XIX)

 

Ter ideias não é um fenômeno que apenas os gênios produzem. Qualquer ser pensante pode criar, existem diversas técnicas que ajudam a desenvolver a criatividade e a capturar as ideias.

A técnica mais famosa e a brainstorm (tempestade cerebral) muito utilizada pelos profissionais de marketing e de criação.

 

Em “Yes, Virginia, there is a Hercules – HLJ” os produtores do seriado tentam efetuar um desastroso brainstorm ao jeito deles.

 

Uma pessoa ou um grupo de pessoas se reúnem em um lugar tranqüilo e confortável. Ela ou eles começam a abordar um problema ou analisar um produto pelos mais diversos ângulos. Então os participantes começam a disparar as ideias que lhes vêm à cabeça. Toda e qualquer divagação, tola ou não é bem-vinda e deve ser registrada. Atitudes como censura ridicularizando ideias próprias ou alheias são absolutamente proibidas, porém, levantar piadas sobre o assunto pode, pois observar os fatos pelo lado irônico sempre é uma atitude criativa e, da mesma forma, alcançar o lado trágico delas também é. Um brainstorm não deve durar muito tempo, uma meia hora ou uns 45 minutos no máximo. Ao final dele, recolhem-se todas as anotações para que possam ser lidas e analisadas mais tarde de cabeça fria.

O próximo passo é esquecer; sair para o almoço; ocupar-se de outros afazeres ou ir ao cinema. Este aparente descanso é a fase mais importante do processo criativo. É chamada de “tempo de incubação”. O que a maioria das pessoas ignora é que quando temos um grande problema por ser resolvido o nosso cérebro nunca para de tentar solucioná-lo. Mesmo quando estamos distraídos com outros assuntos ou dormindo. Enquanto pensamos que esquecemos tudo o que foi levantado no brainstorm a nossa mente continua silenciosamente a ruminar e digerir todo o material da sessão de brainstorm.

Se no dia seguinte ainda não surgiu nenhuma ideia consulta-se as anotações do brainstorm para avaliar o que presta ou não e mais tarde ou faz-se mais um brainstorm de tempo mais curto.

Então, a qualquer momento pode manifestar-se a terceira fase do processo criativo. O insight. É o momento em que a ideia ou a solução de um problema aflora. É o célebre momento do grito de heureca!

Conta a lenda, que Arquimedes de Siracusa (matemático grego) estava repouso numa banheira, quando percebeu que o nível da água havia se elevado quando ele entrara nela. A mente dele juntou este evento com uma questão que já vinha sendo trabalhada em sua mente. Daí veio, como se fosse do nada, a solução em um lampejo. Conta-se que Arquimedes emocionado saiu completamente nu pelas ruas gritando Heureca! Heureca! (Achei! Achei!)

Dr. Sigmund Freud explica este processo assim: “A criatividade tem origem quando a parte consciente da personalidade (ego) se depara com um problema, uma frustração ou inquietação. Provocando um conflito dentro do inconsciente (id); mais cedo ou mais tarde o inconsciente produz uma solução para este conflito”. Teremos como resultado um comportamento criador.

 

“O homem feliz jamais fantasia, mas o insatisfeito sim; os instintos insatisfeitos são as forças impulsionadoras da fantasia e cada fantasia é a satisfação de desejos, uma retificação da realidade insatisfatória.” (Koestler)

 

 

Jeito Xena de efetuar um brainstrom

 

“Para que uma criação seja gerada, a mente criativa deve primeiramente se deparar com uma perturbação, uma frustração causada por um problema ou uma situação que não controla”. (E. Max Wertheimer – teórico da Gestald)

 

A criação nasce a partir da percepção de um problema em que a sua não-solução mostra-se incômoda. Este problema deve ser então abordado globalmente e não apenas por um ângulo. É por isso que nenhuma ideia tola deve ser ignorada em uma sessão de brainstorm. Assim, a mente acaba chegando a uma solução que restaura a paz interior.

As soluções criativas resultam, portanto, de um conjunto de ações mentais em busca da libertação de uma angústia. Com isso, observamos que o processo criativo é composto por três fases.

1 – Levantamento do problema (Tempo de pesquisa à brainstorm à provocando um conflito no ID.)

2 – Tempo de incubação (Tempo de ruminação e maturação da ideia pelo inconsciente.)

3 – Insight – a iluminação (Momento de afloramento da idéia ou solução pelo ego.)

Onde encontrar as ideias

Lewis Herman, roteirista americano, definiu que as ideias iniciais para um roteiro podem ser adquiridas por seis modos distintos:

1 – Ideias selecionadas – São captadas na experiência vivida, em fatos que o escritor testemunhou no passado. Seria o caso do escritor Jorge Amado já citado anteriormente no cap. 1;

2 – Ideias verbalizadas – São adquiridas quando alguém nos relata algum fato e o recontamos em um texto ou roteiro. Seria mais o caso dos textos de crônicas jornalísticas, documentários ou contos de origem testemunhais;

3 – Ideias lidas ou ideias grátis – São captadas nos jornais e revistas, reportagens policiais, fatos políticos ou históricos. São histórias pré-prontas apenas esperando para serem transformadas em texto ou roteiro. Diversos documentários e ficções nascem desta forma. Ex.: Adoniram Barbosa criou a letra de “Iracema” depois de ter lido uma notícia de jornal de um atropelamento fatal de uma mulher que ele nunca conheceu.

4 – Ideias transformadas – São novas histórias que recontam histórias clássicas com novos cenários e novos personagens. Ex.: “Uma linda Mulher” de certa forma é baseada no conto da Gata Borralheira. Por sua vez, “Kill Bill” tem muito a ver com a busca de vingança do “Conde de Monte Cristo”. As fanfics nascem desta forma, o seriado mãe já poupa o trabalho de criar o ambiente, a premissa dramática e os personagens principais. O fã criador tem apenas que introduzir a sua própria narrativa usando ou alterando estes elementos pré-prontos.

5 – Ideias solicitadas – São aquelas encomendadas por um produtor ou patrocinador: Elas já vêm pré-prontas, cabe apenas ao roteirista a missão de transformá-las em roteiro ao gosto do freges. Geralmente se baseiam em livros best-sellers ou sobre a vida de celebridades.

6 – Idéias procuradas – São aquelas encontradas a partir de pesquisa para descobrir o que o público alvo quer. As emissoras de televisão e agencias de publicidade usam muito desse recurso na criação dos seus produtos.

Um bom exemplo é o Filme “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995)”, também já citado anteriormente. Carla Camurati encontrou a ideia, pesquisou a fundo e percebeu que seria um bom momento para tratar o tema na época em que o Brasil se aproximava de comemorar quinhentos anos do seu descobrimento e os duzentos anos da vinda da família Real.

Story line (linha da história)

É a primeira etapa de elaboração do roteiro e deve resumir a história em poucas linhas (cinco no máximo). Na story line, o roteirista deve revelar apenas a premissa dramática, o conflito matriz de sua trama, esquecendo os adjetivos e abusando dos verbos, sempre no presente, ainda que a história seja contada no passado. São os verbos que mostram a ação dramática e seu desenvolvimento.

 

Exemplo de story line do L.O.R. (“O Senhor dos Anéis”):

Um grupo de guerreiros tem a missão de ajudar um orbit a transportar o Anel Um do poder por toda a Terra Média para que este seja destruído evitando que o poder do mal domine o seu mundo.”

 

Agora, se nos perguntam quem é este grupo de guerreiros? O que vêm a ser um orbit? O que é o Anel Um? Onde fica a Terra Média? E de onde provêm mal ameaçador? Isto tudo deve ser explicado na sinopse.

Sinopse ou Argumento

A sinopse é a segunda etapa após a story line e é direcionada a um seleto público alvo: produtores, diretores, patrocinadores e atores. Se a story line mostra o conflito da sua história é na sinopse ou argumento que os personagens são revelados. Existem dois tipos de sinopse: A curta e a abrangente. A primeira deve ter cerca de quatro páginas e a segunda, no máximo trinta.

Uma sinopse é o primeiro instrumento de contato com o produtor ou com o diretor e poderá ser usado também nas negociações com os patrocinadores. Com uma sinopse pronta é possível prever e orçar custos para a viabilização do projeto.

A sinopse é o resumo essencial da história, deve apresentar o tempo e espaço, (sem grandes detalhamentos) e os personagens principais com suas respectivas personalidades.

O que deve conter numa sinopse?

Para o roteirista brasileiro Doc Comparato: “Enquanto a “story line representa o quê (o conflito-matriz escolhido), a sinopse representa o quando (a temporalidade), o onde (a localização), o quem (as personagens) e, finalmente, o qual (a história que vamos contar)”.

Situando o tempo: Quando a história começa? Ela acontece num tempo contínuo, que salta ou que retrocede?

Situando o espaço: Onde a história acontece? Quais as características desse lugar? E qual é o contexto social e histórico do ambiente?

Identificando o protagonista e personagens de apoio: Quem é o protagonista da história? E quem é ou são os antagonistas? Ao lado do protagonista também atuam os personagens secundários que surgirão à medida que a trama se desenvolve. A sinopse também deve traçar o perfil dos personagens principais.

Importante!

Antes de apresentar uma sinopse ao mercado é importante registrá-la, pois mais do que ser uma proposta de produção cênica, é um produto comercial que pode alcançar um grande valor.

De qualquer parte do Brasil pode-se registrar sinopses, roteiros e livros na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, mediante o pagamento de uma taxa, preenchimento de um formulário e apresentar pelo menos uma cópia do roteiro, com sua rubrica em cada página.

ESCRITÓRIO DE DIREITOS AUTORAIS (EDA/FBN) – PALÁCIO GUSTAVO CAPANEMA – RUA DA IMPRENSA, 16 – SALAS 1205/10 – 12° ANDAR – CASTELO – CEP 20030-120 – RIO DE JANEIRO – RJ.

Storyboard

 

páginas do storyboard de “The Bitter Suite” – XWP

 

É um método de apresentação que foi desenvolvido pelos estúdios da Disney nos anos 30 para produção de animações. Embora alguns roteiristas gostem de ilustrar os seus roteiros o storyboard é elaborado por outros profissionais depois do roteiro ter sido concluído. É uma série ordenada de ilustrações que definem como deverá ser o ritmo e o enquadramento e o clima de cada cena da história em uma formatação muito parecida com a das histórias em quadrinhos.

Tem como finalidade a de pré-visualizar todas as passagens da história da forma mais próxima de como deverá acontecer na tela. Como ele, as pessoas envolvidas no projeto podem analisar e perceber melhor as nuances de cada sequência, como será o ritmo das tomadas, elaborando melhor a eficácia de cada cena. A imagem de um storyboard busca transmitir como será a imagem final,  no entanto, sem ser muito detalhada, pois a sua função mais importante é antever como será o clima de uma cena.

O recurso do storyboard é uma ferramenta relativamente barata para o diretor de fotografia ter uma pré-visualização do resultado final de uma produção cênica.

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One Response to “Curso de estrutura de roteiro capítulo 3”

  1. Julia disse:

    Hobbit, não Orbit!

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