O que é a fé?
Por: Chapo
CHAPO
Quantos exemplos de fé nós temos ao longo da série?
Desde os seguidores de Eli, passando por Eve e seu auto-flagelo, virgens de Héstia, seguidores de Ares e até os diversos fies à Dahak, o Deus único.
De fato a menção de uma divindade suprema foi reafirmada diversas vezes na série. Mas uma chama mais atenção. Esta vez não houve um Deus visível, somente fiéis em diferentes águas que conduzem ao mesmo rio.
Em Altered States (Estado Alterado) Deus exige um sacrifício de Anteus: Matar seu filho para provar sua fé e seu amor ao Deus único acima de tudo e de todos.
Claro, ao longo do episódio Xena descobre, graças a Deus, que era tudo um plano do irmão mais velho Mael somente para conseguir o trono . Mael drogou o pai para confundi-lo e manipulá-lo. Pregava como ninguém diante dos fiéis com argumentos baratos e supérfluos que satisfaziam seus seguidores que ardiam em fome de sangue por justiça na verdadeira fé.
Ok, agora vamos ver por outro ângulo. E é aí que o bicho pega:
E se não fosse manipulação? Se não existisse Mael? O que Xena faria. E pior! O que VOCÊ faria?
Claro, você falar com Deus é normal, muitos de nós fazemos isso diariamente. E Deus falar com você é um sinal de esquizofrenia, pra falar o mínimo.
Porém, se por um instante estivéssemos em plena sanidade e ainda assim Deus lhe requisitasse uma prova de sua fé.
Pense:
Qual sua definição de fé?
Exigir tais sacrifícios seria mesmo uma forma de provar algum nível de crença?
E é justo cobrar a vida de alguém?
Veja bem, pelo olhos de Anteus havia um dilema gigante. Ele poderia muito bem poupar a vida de seu filho. Mas depois que moral ele teria para pregar qualquer valor de sua fé?
Não seria por demais conveniente ter fé somente nas horas que estamos em apuros? Afinal, pela fé dele, seu filho Icus iria para o paraíso. Para um lugar bom, calmo e pacífico. Não seria o fim, portanto não seria necessariamente um ato maligno.
Mas mesmo para Anteus este sacrifício era um fardo muito grande. Deus era mesmo misericordioso em exigir isso? Era justo?
Oras, se ele tudo sabe, por que então uma prova se torna necessária?
Eis que o filho Icus, apesar do medo, entende que sua vida faz parte do grande plano de Deus para transmitir alguma mensagem.
Não surpreende Deus ter escolhido ele para ser o governante daquele povo e não Mael, o invejoso.
Icus era puro em sua bondade, era suficiente para guiar seu povo nos valores do bem, do altruísmo. Mael só queria o poder.
Eu sinceramente não sei o que eu faria. Pessoalmente não acredito que um Deus misericordioso e a definição da essência do bem venha me exigir esse tipo de coisa.
Mas quem sou eu senão uma única mente?
Uma única interpretação de diversas versões de BEM MAIOR.
Quem somos nós para julgar o que Deus quer. O que ele acha melhor?
É muito cômodo achar que ele só conspira a meu favor sem me exigir nada, visto que ele tudo pode e tudo fornece.
Mas quem garante, caso fosse verdade, que o plano dele não era sensibilizar Mael por seu plano maligno e o tornar um ser redimido e arrependido. Alguém que busca o bem por causar um mal imensurável à outra pessoa que jamais terá a chance de viver o que lhe era destinado de forma justa?
Afinal, não é justamente isso que Xena é? Uma eterna arrependida buscando compensar as coisas erradas que fez.
E quem somos nós para dizer qualquer coisa caso fosse cobrado à Xena que sacrificasse aquela pessoa que mais ama em razão de sua fé?
Claro, Xena jamais o faria. Ela é egoísta demais pra isso. Até jogou o Chakram para impedir o sacrifício.
Anteus, este era um homem que vivia em função da fé e não poderia renegar seus valores por egoísmo. Ele perderia toda a credibilidade e seu povo pereceria. E isso certamente não seria justo. Seria?
Do ponto de vista religioso, a obra de Deus é muito maior do que qualquer capacidade humana de compreensão. O que estava em questão ali não era se Anteus (assim como Abraão) amava mais a Deus ou a seu filho. Mas era se sua confiança na vontade divina era total como ele recomendava para seu povo. Sua palavra, depois deste feito, teve muito mais impacto em seu povo, podem ter certeza. Louvamos tanto a amizade e confiança cega de Xena para com Gabby e vice versa que quando vemos algo assim para com uma divindade invisível nos é indigesto.
Sorte de Anteus que seu Deus não exigia isso de fato e deixou claro que sua fé era mais que suficiente, que nenhum sacrifício era necessário. E sorte de Xena que tem uma desculpa para justificar sua falta de pontaria em sua única vez que errou o Chakram. A não ser, claro, que você acredite que ela também errou a cabeça de Gabrielle na quinta temporada, mas isso fica para outro artigo…